São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

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CARLOS HEITOR CONY

O vermelho e o negro

RIO DE JANEIRO - A última rodada do Brasileirão empolgou os torcedores, que viveram um clima parecido com o de uma final de Copa do Mundo. Mesmo os mais desinteressados em futebol torceram de alguma forma. Foi realmente uma festa, com o Maracanã lotado com uma das maiores torcidas dos últimos tempos.
Infelizmente, apesar do bonito jogo entre Flamengo e Grêmio, que decidiria o campeonato, houve violência brava em Curitiba, com a polícia entrando em campo e baixa de policiais e torcedores. No Rio, onde se decidia o título, não houve violência em campo, mas fora dele, nos arredores do estádio e em vários pontos da cidade.
Curiosamente, eram os próprios flamenguistas que brigavam com flamenguistas, num desafio aos psicólogos de massa. Como explicar que torcedores do mesmo time, inebriados pela vitória de seu time, entrassem em conflito do qual saíram alguns feridos. O fenômeno é antigo, prende-se à tradição medieval das justas em que os camponeses lutavam até morte pelos seus senhores, portando o escudo heráldico que de certa forma é o mesmo dos clubes de futebol de hoje.
A alegria, mais que alegria, o júbilo, a exaltação, não se limitam ao jogo em si, é preciso mais. Afinal, o torcedor na arquibancada apenas vê e torce, não leva para casa as marcas da luta, as medalhas da vitória. Prolonga nas ruas a emoção da partida, lamentando que ela tenha acabado e durado tão pouco. Na arquibancada, o torcedor sente-se um pouco impotente, sua participação se resume a incentivar o time. A paixão lhe exige mais.
Sthendal escreveu "O vermelho e o negro", cores metafóricas de um conflito existencial. Não por acaso, o vermelho e o negro são as cores do clube mais popular do país.
E o vitorioso.


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