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CARLOS HEITOR CONY
O vermelho e o negro
RIO DE JANEIRO - A última rodada do Brasileirão empolgou os
torcedores, que viveram um clima
parecido com o de uma final de Copa do Mundo. Mesmo os mais desinteressados em futebol torceram
de alguma forma. Foi realmente
uma festa, com o Maracanã lotado
com uma das maiores torcidas dos
últimos tempos.
Infelizmente, apesar do bonito
jogo entre Flamengo e Grêmio, que
decidiria o campeonato, houve violência brava em Curitiba, com a polícia entrando em campo e baixa de
policiais e torcedores. No Rio, onde
se decidia o título, não houve violência em campo, mas fora dele, nos
arredores do estádio e em vários
pontos da cidade.
Curiosamente, eram os próprios
flamenguistas que brigavam com
flamenguistas, num desafio aos psicólogos de massa. Como explicar
que torcedores do mesmo time,
inebriados pela vitória de seu time,
entrassem em conflito do qual saíram alguns feridos. O fenômeno é
antigo, prende-se à tradição medieval das justas em que os camponeses lutavam até morte pelos seus senhores, portando o escudo heráldico que de certa forma é o mesmo
dos clubes de futebol de hoje.
A alegria, mais que alegria, o júbilo, a exaltação, não se limitam ao jogo em si, é preciso mais. Afinal, o
torcedor na arquibancada apenas
vê e torce, não leva para casa as
marcas da luta, as medalhas da vitória. Prolonga nas ruas a emoção da
partida, lamentando que ela tenha
acabado e durado tão pouco. Na arquibancada, o torcedor sente-se um
pouco impotente, sua participação
se resume a incentivar o time. A
paixão lhe exige mais.
Sthendal escreveu "O vermelho e
o negro", cores metafóricas de um
conflito existencial. Não por acaso,
o vermelho e o negro são as cores do
clube mais popular do país.
E o vitorioso.
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