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VINICIUS TORRES FREIRE
Por uma crítica do Liberex
SÃO PAULO - Nos anos de 1970, comunistas discutiam o Sorex: a abreviação de "socialismo realmente existente". Isto é, o império soviético e entorno, algo que deveria ser criticado e
revolucionado para que se salvasse o
"verdadeiro espírito" de Marx e do
socialismo que jamais existiu.
Assim como o Sorex, há o Liberex, o
liberalismo realmente existente. Os
achaques teóricos de liberalóides e
comunistas são aparentados -os
dos comunistas, mais sangrentos, decerto. Mas ambos defendem os efeitos
desastrosos do que propõem argumentando que seus regimes jamais
puderam ser perfeitamente desenvolvidos, dadas as conspirações da história e a obtusidade humana.
O adepto do Liberex gostaria de dizer, como Drummond: "Se meu verso
não deu certo, foi seu ouvido que entortou". Se as reformas liberais não
deram certo é porque faltam mais reformas, tendendo ao infinito. O ideal
Liberex é encaixar países e pessoas
em um manual de economia. Se a
roupa não cabe, pior para o cidadão.
O Liberex é ignorante de história,
bom senso, contextos. É uma versão
ainda mais burra e venal da sociologia da modernização. Quer tratorar
identidades políticas, nacionais, culturais a fim de chegar logo à utopia
do macroeconomista do equilíbrio
doido, ainda que isso seja contraproducente até para a realização de boas
idéias liberais.
O Liberex tem comitê central, o Copom. Um politburo, a comunidade
de economistas banqueiros. Tem sua
dialética da natureza: a filosofia da
felicidade, do auto-engano e da expectativa racional. Tem um gulag
por vezes sem cercas para recalcitrantes, o sopão dos inempregáveis. Para
o bem da sociedade, a tortura com juros, científicos, claro.
Séculos de história e a teoria econômica ensinam que é ruim o governo
que gasta demais, detona moedas e
inflações, impede o comércio e a empresa inventora, que mantém o povo
em ignorância e doença. Além disso,
controvérsia. De resto, um lance de
dados jamais abolirá o acaso.
É preciso derrubar o muro de marfim (falso) da tecnocracia Liberex.
@ - vinit@uol.com.br
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