São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Por uma crítica do Liberex

SÃO PAULO - Nos anos de 1970, comunistas discutiam o Sorex: a abreviação de "socialismo realmente existente". Isto é, o império soviético e entorno, algo que deveria ser criticado e revolucionado para que se salvasse o "verdadeiro espírito" de Marx e do socialismo que jamais existiu.
Assim como o Sorex, há o Liberex, o liberalismo realmente existente. Os achaques teóricos de liberalóides e comunistas são aparentados -os dos comunistas, mais sangrentos, decerto. Mas ambos defendem os efeitos desastrosos do que propõem argumentando que seus regimes jamais puderam ser perfeitamente desenvolvidos, dadas as conspirações da história e a obtusidade humana.
O adepto do Liberex gostaria de dizer, como Drummond: "Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou". Se as reformas liberais não deram certo é porque faltam mais reformas, tendendo ao infinito. O ideal Liberex é encaixar países e pessoas em um manual de economia. Se a roupa não cabe, pior para o cidadão.
O Liberex é ignorante de história, bom senso, contextos. É uma versão ainda mais burra e venal da sociologia da modernização. Quer tratorar identidades políticas, nacionais, culturais a fim de chegar logo à utopia do macroeconomista do equilíbrio doido, ainda que isso seja contraproducente até para a realização de boas idéias liberais.
O Liberex tem comitê central, o Copom. Um politburo, a comunidade de economistas banqueiros. Tem sua dialética da natureza: a filosofia da felicidade, do auto-engano e da expectativa racional. Tem um gulag por vezes sem cercas para recalcitrantes, o sopão dos inempregáveis. Para o bem da sociedade, a tortura com juros, científicos, claro.
Séculos de história e a teoria econômica ensinam que é ruim o governo que gasta demais, detona moedas e inflações, impede o comércio e a empresa inventora, que mantém o povo em ignorância e doença. Além disso, controvérsia. De resto, um lance de dados jamais abolirá o acaso.
É preciso derrubar o muro de marfim (falso) da tecnocracia Liberex.


@ - vinit@uol.com.br

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