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KENNEDY ALENCAR
Ciro, a ameaça
BRASÍLIA - O ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) deixou
escapar o que todo mundo em Brasília está careca de saber. Lula será
candidato à reeleição. E deverá
anunciar tal pretensão na virada de
fevereiro para março, preocupado
em amarrar alianças partidárias e
palanques estaduais até abril.
Por que, então, Lula diz que pode
não disputar? Por que estimula a versão de que Ciro Gomes (PSB), ministro da Integração Nacional, é seu plano B? Ciro causa arrepios no PT, nos
aliados, na imprensa e no mercado.
A exemplo de 2002, o presidente se
faz de difícil para arrancar concessões do PT a ele e aos aliados. Após a
crise do "mensalão", que desidratará
o partido nas urnas em outubro, só
faltava não ter candidato ao Planalto. Seria o atestado de óbito da legenda que prometia mudar o Brasil. Se o
PT quer Lula, que seja a seu modo.
Ciro é opção real para vice.
No primeiro turno, o presidente
ainda será um bom puxador de votos
para aliados. Seu calcanhar-de-aquiles voltou a ser a segunda fase. Como
quer limitar inevitáveis concessões,
fala em desistir. "Não venderei a alma ao diabo", diz.
Apesar do amadurecimento pessoal
e político pós-2002, quando arruinou
sua chance de conquistar o Planalto
por brigar até com a sombra e xingar
eleitor no rádio, Ciro não se dá bem
com a imprensa -especialmente a
escrita e paulista. A relação de Lula
com jornalistas é ruim. A de Ciro tenderia a ser pior. Ele tem ganas de enquadrar a imprensa. Já Lula é um
chorão que não entende ser obrigação presidencial, nas democracias
modernas, prestar contas via mídia.
De velho bicho-papão, o petista virou o preferido do grande capital financeiro, sobretudo o internacional.
Dar lugar a Ciro, crítico de Palocci e
defensor quatro anos atrás da reestruturação da dívida pública, seria
um pesadelo para o mercado. Wall
Street lê reestruturação como calote.
A ameaça Ciro é útil a Lula. Numa
hora de fraqueza, mantém vivo seu
cacife em boa parcela da sociedade.
@ - kalencar@uol.com.br
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