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CLÓVIS ROSSI
Enquanto isso em Tijuana
SÃO PAULO - Tenho o maior respeito pelo ministro da Defesa, Waldir Pires. Não obstante não posso
ocultar que a entrevista que deu a
Eliane Cantanhêde, ontem publicada, é a mais completa demonstração de desorientação já vista em entrevistas do gênero com autoridades públicas.
Fica explícito que, como escreveu
a própria Eliane, o ministro "não
tem noção sobre as formas e os limites" (da ação que as forças federais poderão ter no Rio).
Se o problema da violência/criminalidade (no Rio ou em outras cidades brasileiras) tivesse sido inventado ontem, tudo bem que o ministro não soubesse o que fazer.
Mas é um problema que o próprio
governador do Rio, Sérgio Cabral,
chamou de "crônico", com a franqueza de quem está fresco no cargo
e pode, portanto, admitir francamente a antigüidade do problema
sem precisar fazer autocrítica.
Para ajudar o ministro, sugiro
que ele peça relatórios diários à embaixada do Brasil no México sobre a
operação militar contra o crime organizado lançada pelo recém-empossado presidente Felipe Calderón numa cidade emblemática como Tijuana.
Esta última é, faz tempo, feudo
dos cartéis das drogas, provavelmente mais poderosos no México
do que no Brasil, dada a proximidade do principal centro consumidor
(os Estados Unidos).
Calderón mandou 3.300 homens
do Exército e da Polícia Federal,
com todo o equipamento clássico,
inclusive tanques, para não falar de
apoio aéreo e marítimo. Longe, portanto, da intervenção meia boca até
agora anunciada pelo governo federal brasileiro.
Calderón está há um mês no posto, menos tempo, portanto, que
Waldir Pires e seu chefe, Luiz Inácio Lula da Silva. A operação Tijuana pode até ser um tremendo fracasso, mas já que o ministro não sabe o que fazer, tem pelo menos por
onde começar a estudar.
crossi@uol.com.br
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