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CLÓVIS ROSSI
Saudades do mensalão
SÃO PAULO - Se eu fosse do governo, relançaria um esquema tipo
mensalão (se é que o modelo não
continua, até que Roberto Jefferson resolva detoná-lo de novo). Parece a única maneira de conseguir
soldar a base de apoio governista,
que anda batendo cabeça de uma
forma jamais vista antes.
Estamos assim: o vice-presidente, José Alencar, amigo do presidente, diz que é mero "remendo" a
proposta de seu amigo Lula para cobrir parte do buraco deixado pela
queda da CPMF. O "remendo" nem
sequer foi antecipado ao rapaz que
faz a coordenação política do governo, no que parece demonstrar que,
como ministro, trata-se de um ótimo cantor amador.
Já o líder do governo no Senado,
que, entra governo, sai governo,
continua sendo governo, confessa
sem ruborizar-se que o presidente
faltou com a palavra empenhada ao
anunciar que não haveria aumento
de impostos, apenas para decretá-lo dias depois.
Claro que sempre haverá poetas
capazes de dizer que mensalão é
coisa feia e que o amalgama correto
para a base governista (ou para a
base oposicionista) deveria ser a
ideologia, o programa, essas coisas
com os quais os políticos enchem a
boca, mas não acreditam.
De fato, deveria ser assim, mas
ideologia, programa, convicções,
seriedade no trato da coisa pública
são produtos em absoluta falta no
mercado político brasileiro (não só
brasileiro, é verdade, mas lá fora o
problema é deles).
A queda da CPMF é, talvez, o
mais emblemático dos exemplos:
foi derrubada pelos partidos que a
criaram e foi defendida pelo partido
que, quando era oposição, a ela se
opunha ferozmente. Não foi criada
nem extinta em função de ser um
bom ou um mau tributo, mas em
função de dar ou retirar dinheiro do
governo de turno.
Se não é a mais perfeita escul-
hambação, não sei mais o significado de esculhambação.
crossi@uol.com.br
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