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Regressão continuada
O governo paulista faz bem ao rever o sistema de ciclos no ensino fundamental, que admite a progressão de alunos mal alfabetizados
Em boa hora o governo estadual
de São Paulo abre uma discussão
sobre a progressão continuada na
sua rede de ensino. Também conhecida como sistema de ciclos,
que limitava a retenção de alunos
apenas à quarta e à oitava séries
do ensino fundamental, a medida
foi implantada a partir de 1998 de
forma precária. Terminou por ser
confundida com aprovação automática, a pior deturpação que lhe
poderia sobrevir.
O sistema vinha nivelando as
classes de ensino fundamental
por baixo. Alunos com bom rendimento se viam obrigados a seguir
no ritmo daqueles com dificuldade. Não sendo mais reprovados,
estes tampouco recuperavam o
atraso acumulado, na ausência do
acompanhamento e das aulas de
reforço que os ciclos pressupõem.
Com a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos,
criou-se mais um problema. O primeiro ciclo, que terminava na
quarta série, ganhou um ano.
Assim, só ao término do quinto
ano -tarde demais- o desempenho gravemente deficiente de alguns alunos poderia resultar em
retenção. Até esse ponto, os retardatários prosseguiriam sem percalços, mas também sem estímulo
nem assistência.
O principal argumento em favor
da progressão continuada era que
a retenção repetida de alunos terminava por desestimulá-los de
prosseguir nos estudos, levando à
evasão. Com efeito, estatísticas
mostram que a introdução dos ciclos diminuiu tanto as taxas de reprovação quanto as de abandono.
O estigma do aluno repetente foi
substituído, no entanto, pela indignação -sobretudo por parte de
pais- diante da possibilidade de
"passar de ano" sem fazer esforço.
Retoma-se agora, para corrigir
as distorções, uma ideia já aventada e nunca implantada pelo governo paulista: reduzir a duração
dos intervalos. Em 2007, falava-se
em ciclos de apenas dois anos.
Agora, cogitam-se três.
Faz mais sentido que o primeiro
momento de verificação rigorosa
do progresso dos estudantes se dê
ao final do terceiro ano. É precisamente o ponto em que se espera
que os alunos estejam plenamente alfabetizados. Como isso deixa
de ocorrer com frequência, a constatação no tempo devido é condição necessária para uma ação precoce da escola no sentido de evitar
que crianças iletradas prossigam
nessa situação.
Condição necessária, mas não
suficiente. Sem aperfeiçoamento
do corpo docente, com salários
dignos para atrair os melhores
profissionais e treinamento para
resgatá-los da pedagogia ineficiente, e sem investimento em aulas de reforço, esses jovens brasileiros continuarão, infelizmente,
marcando passo.
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