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ECONOMIA SEM DEFESA
A década de 90 pode ser resumida, no sistema mundial e
principalmente nos EUA, como a era
da economia forte que em boa medida foi beneficiada pelos "dividendos
da paz". Hoje prevalece o cenário
oposto: a maior economia global está cada vez mais frágil, enquanto seu
governo move nova escalada militar.
O senso comum atribui à economia de guerra algumas virtudes. A
mobilização de dezenas de milhares
de jovens para os campos de batalha
compensa parcialmente o estreitamento das oportunidades de emprego. Os fabricantes de aviões recebem
novas encomendas exatamente
quando a aviação civil enfrenta a
maior crise de sua história.
O fim da Guerra Fria permitiu a expansão das fronteiras dos mercados
e a adaptação de parte do complexo
militar-industrial para finalidades
pacíficas. Mas a guerra ao terrorismo, de que a ofensiva contra o Iraque
é apenas mais uma batalha, promete
ser longa e gerar uma onda de investimentos no uso militar das novas
tecnologias, cuja fronteira é dominada por empresas norte-americanas.
A política econômica da guerra
também contribui para um déficit
público estimado em cerca de US$
300 bilhões. Gastos sociais foram
cortados. Ganham destaque os gastos em novos projetos de defesa, como o assim chamado "bioescudo"
contra ataques químicos e bacteriológicos. As expectativas são de que o
governo dos Estados Unidos tenha
déficits de mais de US$ 200 bilhões
ao ano até 2007.
Restam no entanto fortes dúvidas
sobre a eficácia econômica da estratégia militarista. Os efeitos da guerra
sobre as expectativas de consumidores e empresários podem levar a cortes duradouros de gastos.
O presidente Bush, como seu antecessor Ronald Reagan, acredita que
aumentar gastos e cortar impostos é
a melhor forma de reativar a economia. Mas para os céticos os efeitos
negativos dos déficits sobre os mercados tendem a surgir antes e com
intensidade suficiente para enfraquecer o dólar diante das principais
moedas globais, o euro e o iene.
Um dólar fraco demais, ainda que
os EUA dêem seguidas demonstrações de força militar, colocará o banco central dos EUA diante de pressões por uma elevação dos juros. Isso deteria uma recuperação e deprimiria todo o sistema internacional.
A reafirmação geopolítica dos EUA
coincidiria com seu enfraquecimento como pólo econômico global.
Externamente, a força das armas
pode ser insuficiente para coordenar
interesses, em especial no comércio
internacional. Ao contrário, a imposição do projeto tutelar americano ao
resto do mundo pode solapar o potencial de cooperação.
Uma onda protecionista reduziria
ainda mais as perspectivas de crescimento em todo o mundo.
Internamente, o governo Bush tem
empolgado a opinião pública ainda
traumatizada pelos ataques terroristas de 11 de setembro.
Mas uma economia fragilizada pode minar também a vantagem política doméstica alcançada por Bush.
Mais que a indefinição sobre a duração da guerra ao terrorismo internacional, o que se vislumbra é uma
incerteza ainda mais radical, produzida por um governo militarmente
cada vez mais forte sustentado por
uma economia cada vez mais fraca.
Para os céticos, essa é a contradição
que afinal arruína todos os impérios.
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