|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOCORRO AÉREO
Apenas parte da história da
reestruturação do setor aéreo
no Brasil começou a ser contada na
semana passada. O anúncio da fusão
entre a Varig e a TAM foi saudado
nos círculos governamentais como
uma solução "de mercado" para o
problema de viabilidade que, em
maior ou menor grau, afeta as companhias. A despeito da boa vontade
das autoridades, é provável que qualquer iniciativa de reestruturação do
setor de transporte aéreo passe por
nova operação de socorro público.
Se não for esse o caso, o fato de o
Estado brasileiro ser um dos grandes
credores dessas empresas -seja
porque elas devem a estatais como a
BR Distribuidora, a Infraero e o
BNDES, seja porque devem ao fisco- já garante a presença do governo em qualquer solução para o caso.
A crise no setor de aerotransporte
tem dimensões globais e se agravou
sobremaneira após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. O
efeito combinado de recessão, temor
de voar e encarecimento de alguns
custos financeiros do negócio -seguros e segurança, por exemplo-
fez vítimas empresariais em todo o
planeta e não poupou algumas das
maiores corporações aéreas do mundo, apesar do auxílio financeiro proporcionado por governos como o
norte-americano, que ofereceu US$
15 bilhões ao setor.
A crise global apenas tornou dramático o que já era crônico no Brasil:
empresas excessivamente endividadas, contando com a benevolência
dos credores para continuar operando e disputando, com excesso de
oferta, um mercado naturalmente
acanhado e inibido pelo fraco desempenho econômico.
A solução que se encaminha
-concentração de mercado- era
vista como inevitável por boa parte
dos especialistas. Mas ela desperta
duas preocupações que têm a ver diretamente com o interesse público.
A primeira diz respeito à regulação
de um setor tendente ao monopólio.
A nova empresa dominará cerca de
70% do mercado nacional. Marcos
regulatórios mais estreitos e fiscalização mais incisiva e profissional são
exigências para que essa situação de
fato não se transforme em poder
desmedido de ditar preços e de derrubar concorrentes menores.
O outro ponto, politicamente mais
complicado, é como o governo deve
proceder da maneira mais justa e
transparente ao tratar dos fundos
públicos que já estão comprometidos nessas empresas e dos pleitos
por um novo aporte de dinheiro ao
setor. Toda diferença, aqui, diz respeito ao enfoque dessas operações.
Não se tolerará o retorno de práticas
que elegem apaniguados como receptáculos de verba pública.
Toda ação pública que porventura
vier a ocorrer nesse setor tem que se
pautar pela impessoalidade e pelo interesse de ver a gestão empresarial
profissionalizada, à custa do afastamento e da punição dos administradores que concorreram para a atual
penúria financeira dessas empresas.
Texto Anterior: Editoriais: ECONOMIA SEM DEFESA Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A Alca. Ou o feitiço virou Índice
|