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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Carvão: eventual substituto do petróleo
No artigo anterior tentei mostrar que o petróleo é a mola propulsora da guerra contra o Iraque.
Mas será que os Estados Unidos não
poderiam explorar outras fontes de
energia para reduzir sua letal dependência do petróleo?
Uma das fontes, que é disponível e
abundante, é o velho carvão. As reservas mundiais dão para 452 anos, enquanto que as de gás natural aguentam apenas 69 e as de petróleo, 45
anos.
Cerca de 56% do carvão está na Rússia e 20% nos Estados Unidos. No Brasil, infelizmente, as reservas de carvão
são irrisórias e de má qualidade. O gás
natural também é escasso. Por uns
bons tempos teremos de viver de
energia hídrica e de petróleo.
No caso dos Estados Unidos, o leitor
pode achar 20% pouco. Ledo engano.
Na base do consumo atual, os americanos poderiam extrair energia do
carvão por 1.500 anos! Se triplicarem o
consumo, ainda assim, as reservas vão
durar 500 anos.
No que tange à eletricidade, os Estados Unidos geram cerca de 50% de
seu consumo a partir do carvão. Poderiam aumentar mais, pois na Polônia
isso chega a 96%; na África do Sul, a
88%; na China, a 78%; e, na Austrália,
a 77%. A eletricidade gerada a partir
do carvão poderia ser combinada com
outros combustíveis para propelir os
automóveis e utilitários de pequeno
porte, o que reduziria enormemente a
dependência do petróleo.
O carvão é formado por florestas
mortas e decompostas por bactérias
há cerca de 280 milhões de anos e se
encontra em camadas superficiais
(aproximadamente 100 metros), enquanto que o petróleo precisa ser extraído em profundidades muito maiores (cerca de 500 metros em terra e
mais de 1.500 metros no mar, em média).
Ademais, o mundo subsidia os combustíveis fósseis em US$ 150 bilhões
por ano. É uma conta cara que acaba
sobrando para todas as nações.
O grande problema do carvão é a
poluição que causa, pela emissão de
CO2. Mas os investimentos em ciência
e tecnologia estão trazendo resultados
animadores. Com novas técnicas, as
usinas térmicas que usam carvão conseguem controlar uma boa parcela
dos gases prejudiciais à saúde. O cardápio de técnicas é grande e o custo
vai baixar ("Clean coal technologies",
World Coal Institute, 2002).
Em suma, por mais que o petróleo
seja um componente premente para
buscar o controle do Iraque e demais
países árabes, os Estados Unidos têm
tudo para enfrentar a questão energética com alternativas de paz, baseadas
no uso da razão humana empregada
na exploração científica e desenvolvimento tecnológico, e não na construção e operação de equipamentos de
guerra que, além do exibicionismo televisivo, não trarão benefício algum,
lembrando-se, ao contrário, que serão
responsáveis pelo grande déficit no
orçamento americano e colossal desassossego no resto do mundo.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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