UOL




São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Carvão: eventual substituto do petróleo

No artigo anterior tentei mostrar que o petróleo é a mola propulsora da guerra contra o Iraque. Mas será que os Estados Unidos não poderiam explorar outras fontes de energia para reduzir sua letal dependência do petróleo?
Uma das fontes, que é disponível e abundante, é o velho carvão. As reservas mundiais dão para 452 anos, enquanto que as de gás natural aguentam apenas 69 e as de petróleo, 45 anos.
Cerca de 56% do carvão está na Rússia e 20% nos Estados Unidos. No Brasil, infelizmente, as reservas de carvão são irrisórias e de má qualidade. O gás natural também é escasso. Por uns bons tempos teremos de viver de energia hídrica e de petróleo.
No caso dos Estados Unidos, o leitor pode achar 20% pouco. Ledo engano. Na base do consumo atual, os americanos poderiam extrair energia do carvão por 1.500 anos! Se triplicarem o consumo, ainda assim, as reservas vão durar 500 anos.
No que tange à eletricidade, os Estados Unidos geram cerca de 50% de seu consumo a partir do carvão. Poderiam aumentar mais, pois na Polônia isso chega a 96%; na África do Sul, a 88%; na China, a 78%; e, na Austrália, a 77%. A eletricidade gerada a partir do carvão poderia ser combinada com outros combustíveis para propelir os automóveis e utilitários de pequeno porte, o que reduziria enormemente a dependência do petróleo.
O carvão é formado por florestas mortas e decompostas por bactérias há cerca de 280 milhões de anos e se encontra em camadas superficiais (aproximadamente 100 metros), enquanto que o petróleo precisa ser extraído em profundidades muito maiores (cerca de 500 metros em terra e mais de 1.500 metros no mar, em média).
Ademais, o mundo subsidia os combustíveis fósseis em US$ 150 bilhões por ano. É uma conta cara que acaba sobrando para todas as nações.
O grande problema do carvão é a poluição que causa, pela emissão de CO2. Mas os investimentos em ciência e tecnologia estão trazendo resultados animadores. Com novas técnicas, as usinas térmicas que usam carvão conseguem controlar uma boa parcela dos gases prejudiciais à saúde. O cardápio de técnicas é grande e o custo vai baixar ("Clean coal technologies", World Coal Institute, 2002).
Em suma, por mais que o petróleo seja um componente premente para buscar o controle do Iraque e demais países árabes, os Estados Unidos têm tudo para enfrentar a questão energética com alternativas de paz, baseadas no uso da razão humana empregada na exploração científica e desenvolvimento tecnológico, e não na construção e operação de equipamentos de guerra que, além do exibicionismo televisivo, não trarão benefício algum, lembrando-se, ao contrário, que serão responsáveis pelo grande déficit no orçamento americano e colossal desassossego no resto do mundo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Nome aos bois
Próximo Texto: Frases

Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.