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CARLOS HEITOR CONY
Nome aos bois
RIO DE JANEIRO - Os cariocas autênticos, e os brasileiros em geral, reclamam da invasão dos nomes e costumes estrangeiros principalmente na
Barra da Tijuca, que se tornou um
quintal de Miami, onde botaram até
mesmo uma Estátua da Liberdade
monstruosamente ridícula e onde o
botequim do José virou "Joe's".
Na política está acontecendo a mesma coisa. Lula pretende franquear
seu gabinete no Planalto ao povo,
cumprindo sua promessa de ficar
sempre ao lado dos excluídos, de gente que nunca pisou o chão de mármore dos palácios e os tapetes do poder.
Tudo bem. Estão chamando isso de
"marketing". No meu tempo, era demagogia.
E o pior é que Lula não precisa de
"marketing" nem de demagogia. Ele
chegou lá por conta de uma autenticidade, de um perfil humano que independe do corte de barba, do terno e
das idéias. No passado, tivemos presidentes que durante a campanha eleitoral prometiam que subiriam as escadas do Catete com o povo.
JK, em seu comícios, fazia seus assessores distribuírem um cartão, assinado por ele, dizendo que o portador
teria acesso direto ao presidente, com
a bastante apresentação daquele papel.
Evidente que com isso deu um trabalho desgraçado ao Josué Montello,
seu assessor na Casa Civil, que passou parte de sua vida atendendo em
nome de JK a voz do povo.
Para efeito de aproximar o poder
da plebe rude, bastaria o cerimonial
do Planalto estabelecer dia e hora para visitação pública dos recônditos
presidenciais, gabinete, biblioteca e,
para os mais devotos, até o quarto de
dormir e o banheiro.
Tal prática já existe em diversos
países, mesmo aqueles em que os dignitários fazem tudo pelo povo desde o
povo fique bem distante deles.
Voltando ao início da crônica. vamos dar nome aos bois. Demagogia é
demagogia.
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