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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Nome aos bois

RIO DE JANEIRO - Os cariocas autênticos, e os brasileiros em geral, reclamam da invasão dos nomes e costumes estrangeiros principalmente na Barra da Tijuca, que se tornou um quintal de Miami, onde botaram até mesmo uma Estátua da Liberdade monstruosamente ridícula e onde o botequim do José virou "Joe's".
Na política está acontecendo a mesma coisa. Lula pretende franquear seu gabinete no Planalto ao povo, cumprindo sua promessa de ficar sempre ao lado dos excluídos, de gente que nunca pisou o chão de mármore dos palácios e os tapetes do poder.
Tudo bem. Estão chamando isso de "marketing". No meu tempo, era demagogia.
E o pior é que Lula não precisa de "marketing" nem de demagogia. Ele chegou lá por conta de uma autenticidade, de um perfil humano que independe do corte de barba, do terno e das idéias. No passado, tivemos presidentes que durante a campanha eleitoral prometiam que subiriam as escadas do Catete com o povo.
JK, em seu comícios, fazia seus assessores distribuírem um cartão, assinado por ele, dizendo que o portador teria acesso direto ao presidente, com a bastante apresentação daquele papel.
Evidente que com isso deu um trabalho desgraçado ao Josué Montello, seu assessor na Casa Civil, que passou parte de sua vida atendendo em nome de JK a voz do povo.
Para efeito de aproximar o poder da plebe rude, bastaria o cerimonial do Planalto estabelecer dia e hora para visitação pública dos recônditos presidenciais, gabinete, biblioteca e, para os mais devotos, até o quarto de dormir e o banheiro.
Tal prática já existe em diversos países, mesmo aqueles em que os dignitários fazem tudo pelo povo desde o povo fique bem distante deles.
Voltando ao início da crônica. vamos dar nome aos bois. Demagogia é demagogia.



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