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SÉRGIO DÁVILA
Os "obamacanos"
EM SEUS COMÍCIOS, Barack
Obama sempre conta uma
história. Freqüentemente,
diz ele, é procurado por um ou outro eleitor cheio de dedos. "Eu sou
republicano", sussurra o eleitor.
"Eu sei", sussurra de volta o pré-candidato democrata. "Mas eu vou
votar em você", continua o eleitor.
"Tudo bem", responde o senador
negro, "mas por que nós estamos
sussurrando?"
Já se sabe que o senador negro
por Illinois atrai o chamado centro
do espectro político norte-americano. Esse é formado principalmente por independentes que mudam de candidato eleição após eleição, ao sabor do cardápio oferecido
a cada quatro anos. Na Superterça,
18% dos que votaram em um democrata se declararam independentes. Desses, 56% escolheram
Obama, ante 37% que foram de Hillary Clinton.
A novidade é que ele começa a
atrair também republicanos descontentes com a consolidação de
John McCain como candidato do
partido da situação. Paradoxalmente, eles repudiam o senador
pelo Arizona por posições menos
conservadoras em questões como
política de imigração e corte de impostos para os mais favorecidos.
"Liberal" (alguém menos de direita) por "liberal", argumentam, preferem Obama -entre eles, o grau
de rejeição à ex-primeira-dama é
altíssimo.
Essa nova turma está sendo chamada de "obamacans", uma contração em inglês de "Obama" com
"republicans", neologismo registrado primeiro pela última "Newsweek". Pois os "obamacanos" estão
crescendo. Ainda segundo a pesquisa de saída-de-urna da Superterça, daqueles que se declararam
republicanos mas votaram em um
candidato democrata, 53% escolheram Obama, ante 36% para
Hillary.
O rosto mais conhecido da nova
turma é o de Susan Eisenhower,
neta do ex-presidente republicano
Dwight D. Eisenhower (1890-1969), que governou os EUA entre
1953 e 1961. "Obama tem um talento político raro", disse ela, republicana desde o berço. "Além disso, o
que este governo faz em política
externa não tem nada a ver com o
que fazia o do meu avô". "Ike", como ele era conhecido, chegaria ao
poder amparado por eleitores descontentes com o outro partido, que
lançaram à época o grupo "Democratas por Eisenhower".
Numa corrida em que a disputa
no campo democrata é a mais embolada da história -nas primárias
de terça, Hillary teve 7,43 milhões
dos votos, ante os 7,37 milhões que
escolheram Obama, diferença de
pouco mais de 50 mil eleitores-, o
apoio dos "obamacanos" pode fazer diferença.
sdavila@folhasp.com.br
SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em
Washington.
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