São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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SÉRGIO DÁVILA

Os "obamacanos"

EM SEUS COMÍCIOS, Barack Obama sempre conta uma história. Freqüentemente, diz ele, é procurado por um ou outro eleitor cheio de dedos. "Eu sou republicano", sussurra o eleitor. "Eu sei", sussurra de volta o pré-candidato democrata. "Mas eu vou votar em você", continua o eleitor.
"Tudo bem", responde o senador negro, "mas por que nós estamos sussurrando?"
Já se sabe que o senador negro por Illinois atrai o chamado centro do espectro político norte-americano. Esse é formado principalmente por independentes que mudam de candidato eleição após eleição, ao sabor do cardápio oferecido a cada quatro anos. Na Superterça, 18% dos que votaram em um democrata se declararam independentes. Desses, 56% escolheram Obama, ante 37% que foram de Hillary Clinton.
A novidade é que ele começa a atrair também republicanos descontentes com a consolidação de John McCain como candidato do partido da situação. Paradoxalmente, eles repudiam o senador pelo Arizona por posições menos conservadoras em questões como política de imigração e corte de impostos para os mais favorecidos.
"Liberal" (alguém menos de direita) por "liberal", argumentam, preferem Obama -entre eles, o grau de rejeição à ex-primeira-dama é altíssimo.
Essa nova turma está sendo chamada de "obamacans", uma contração em inglês de "Obama" com "republicans", neologismo registrado primeiro pela última "Newsweek". Pois os "obamacanos" estão crescendo. Ainda segundo a pesquisa de saída-de-urna da Superterça, daqueles que se declararam republicanos mas votaram em um candidato democrata, 53% escolheram Obama, ante 36% para Hillary.
O rosto mais conhecido da nova turma é o de Susan Eisenhower, neta do ex-presidente republicano Dwight D. Eisenhower (1890-1969), que governou os EUA entre 1953 e 1961. "Obama tem um talento político raro", disse ela, republicana desde o berço. "Além disso, o que este governo faz em política externa não tem nada a ver com o que fazia o do meu avô". "Ike", como ele era conhecido, chegaria ao poder amparado por eleitores descontentes com o outro partido, que lançaram à época o grupo "Democratas por Eisenhower".
Numa corrida em que a disputa no campo democrata é a mais embolada da história -nas primárias de terça, Hillary teve 7,43 milhões dos votos, ante os 7,37 milhões que escolheram Obama, diferença de pouco mais de 50 mil eleitores-, o apoio dos "obamacanos" pode fazer diferença.


sdavila@folhasp.com.br

SÉRGIO DÁVILA
é correspondente da Folha em Washington.


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