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RUY CASTRO
Tapioca corporativa
RIO DE JANEIRO - Os ricos não
gostam de pegar em dinheiro. Por
isso inventaram o talão de cheques
e o cartão de crédito, sem falar no
seu velho e respeitável substituto, o
calote. Homens como Onassis, J.
Paul Getty e Antenor Patiño, que
eram podres de ricos, passavam
anos sem tocar numa cédula. Seus
acompanhantes pagavam tudo por
eles, à vista ou com cartão. E ai de
quem não prestasse contas direito.
Nossos governantes e ministros
também não gostam de pegar em
dinheiro. Nem precisam. Seus assistentes, motoristas ou aspones
encarregam-se das despesas, com
os cartões corporativos que recebem juntamente com a carteira
funcional, as chaves do carro e o
terno preto. A diferença está na
prestação de contas. Onassis, Getty
e Patiño eram rigorosos ao conferi-las, porque, afinal, tratava-se do dinheiro deles. Já nossos mandantes,
liberais com o dinheiro público e
eufóricos com o "nouveau-richisme" de seus cargos, não parecem
ter muita paciência para conferir
números.
É essa liberalidade que explica
seus gastos com mesas de sinuca,
lojas de enxoval, piscinas, colchões,
flores, vinhos, bombons, carnes importadas para churrascos e outros
itens do Carnaval governamental
-com todo respeito pelo Carnaval.
No Japão, a compra indevida de
uma tapioca (R$ 8,30) com o cartão
corporativo faria o responsável atirar-se do 65º andar em sinal de vergonha. Aqui, basta devolver o dinheiro para que a nódoa ética seja
considerada apagada.
Mas o grande cartão corporativo
é o que o governo passou para si
mesmo ao criar exóticas "secretarias especiais", como a da Aqüicultura e Pesca, a de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a de Políticas para as Mulheres, a de Planejamento de Longo Prazo etc. Todas
com peso e despesas de ministério,
e tão deslumbradas quanto.
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