|
Próximo Texto | Índice
AÇÃO DESMESURADA
A ação do Exército no Rio de Janeiro chama a atenção por diversas razões. A primeira é a desproporção entre os objetivos e os meios
empregados. Para recuperar dez fuzis FAL e uma pistola 9 mm roubados na madrugada de sexta-feira de
uma base em São Cristóvão, foram
mobilizados 1.200 militares que chegaram a ocupar dez favelas, em operações que envolveram blindados,
helicópteros e lanchas.
Também causa estranheza o inopino com que o comando do Exército
decidiu agir. Esse não foi o primeiro
nem o maior roubo registrado nos
paióis militares. Por que só agora
veio uma reação dessa magnitude?
Outro ponto polêmico é o que diz
respeito à envergadura da operação.
A quantidade de morros ocupados e
o aspecto aleatório das incursões
-que se deram sobre áreas controladas por diversas facções criminosas, muitas delas rivais- sugerem
que a inteligência militar tem pouca
informação sobre quem cometeu o
crime e onde as armas possam estar.
A finalidade da ocupação é inviabilizar o comércio de drogas nos morros, de modo a pressionar os traficantes a revelar o paradeiro das armas. Nesse ponto, a intervenção se
propõe a dar uma lição exemplar aos
criminosos -que deixem de assaltar
arsenais militares sob pena de ter
seus negócios prejudicados por operações como a atual. Mas essa é sempre uma lógica de eficácia duvidosa.
É certo que o Exército precisa fazer
valer a sua autoridade. A relativa
brandura com que os militares reagiram aos roubos de armas no passado
certamente contribuiu para a repetição dessas ocorrências. Tampouco
se contesta a necessidade de, em situações excepcionais, as Forças Armadas serem chamadas a intervir para assegurar a ordem pública. Esta
Folha já apoiou a presença do Exército nas ruas do Rio de Janeiro em mais
de uma ocasião.
Nesse caso, entretanto, a operação
militar se afigura como desproporcional, pouco focada e potencialmente perigosa. Soldados não têm o
devido treinamento para lidar com
populações civis. Até por essa razão,
convém que a intervenção em curso
termine o mais depressa possível.
Próximo Texto: Editoriais: ABERRAÇÃO TRIBUTÁRIA Índice
|