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Bush em visita
A queda de barreiras e subsídios agrícolas, e não o assistencialismo, é a agenda que importa no combate à pobreza global
POR MUITO tempo a administração do presidente
George W. Bush, que hoje
visita São Paulo, reservou
à América Latina uma diplomacia negligente. Influenciada demais pelos interesses da comunidade de origem cubana instalada
nos Estados Unidos, a política de
Washington para a região foi um
misto de indiferença e imperícia.
São visíveis, porém, os sinais
recentes de
mudança na
orientação que
levou a Casa
Branca, por
exemplo, a
apoiar uma tentativa de golpe
na Venezuela
em 2002. A nomeação do
pragmático
Thomas Shannon como chefe
da diplomacia
para a América Latina, em meados de 2005, deu início a essa
transição.
Decerto a reorientação diplomática já merece críticas, como a
visão de que a ascensão de regimes nacionalistas no hemisfério
foi favorecida pela falta de assistência dos EUA aos pobres da região. Chega a ser patético, por
exemplo, o "pacote" de ações assistencialistas, incluindo o envio
de um navio-hospital e cursos
grátis de inglês, com que Bush
pretendeu brindar os latino-americanos antes de iniciar sua
visita a cinco países da região.
Ainda assim, é muito melhor,
para a América Latina, estar
diante de um interlocutor capaz
de discernir entre Lula, Chávez,
Fidel, Morales e Kirchner.
No caso do Brasil, a maior
atenção dedicada pelo governo
Bush não se explica apenas por
considerações de ordem político-ideológica. Mais que um ator
capaz de contrabalançar o radicalismo chavista, aos olhos de
Washington o governo brasileiro
tornou-se o representante de
uma potência do agronegócio.
A pujança das exportações de
produtos do campo (e da mineração) transformou o Brasil num
grande fornecedor em escala global. Como o país ampliou e diversificou seus clientes pelo mundo,
ficou menos dependente do
mercado americano, apesar de o
comércio com os
EUA ter dobrado
nos últimos oito
anos.
Ator global no
agronegócio, o
Brasil negocia
diretamente
com americanos
e europeus na
Rodada Doha de
liberalização comercial. Do mesmo modo, as atenções se voltam
aos produtores brasileiros de álcool quando os EUA anunciam a
mudança de sua matriz energética a favor dos biocombustíveis,
como estratégia para depender
menos do petróleo.
Tanto na agenda de Doha como na do álcool a hipocrisia do
mundo rico se manifesta. A redução de barreiras e subsídios agrícolas no Primeiro Mundo é talvez o meio mais poderoso à mão
para combater a pobreza no planeta. À política da esmola é preciso antepor a do desenvolvimento -e o Brasil tem um papel
a cumprir nesse debate.
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