|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O escândalo do Pan
PISOU NA bola o presidente
Lula ao defender anteontem, em pleno Maracanã, os
desembolsos extras da União
com as obras dos Jogos Pan-Americanos. É "hipocrisia", disse, discutir se a decisão de sediar
o evento foi oportuna e se os gastos decorrentes são razoáveis.
Tais perguntas, cuja pertinência não precisa ser demonstrada,
tornam-se obrigatórias quando
se verifica que os custos do Pan já
excedem em 684% o orçamento
de 2002, quando o Rio apresentou sua candidatura. Os R$ 409
milhões então previstos deram
um salto óctuplo e se converteram em R$ 3,2 bilhões -dos
quais a metade coube à União.
Um timoneiro consciencioso,
como deveria ser o primeiro
mandatário, em vez de apenas
assinar cheques em branco, deveria debruçar-se sobre alguns
dos gastos e mandar investigá-los. Como explicar, por exemplo,
que a reforma do Maracanã, orçada em 2005 em R$ 75 milhões,
já tenha consumido R$ 232 milhões? É dinheiro o suficiente
para erguer estádios moderníssimos. O de Leipzig, usado na Copa
da Alemanha de 2006, saiu por
R$ 244 milhões.
Mesmo que as obras no Rio
não escondam nenhuma malfeitoria, devem ser cuidadosamente estudadas, a fim de que erros
tão grotescos de planejamento
não voltem a repetir-se. Na melhor hipótese, R$ 3,2 bilhões por
um estádio novo, outro reformado, uma vila olímpica e pouco
mais é um preço extorsivo.
Se há uma virtude no desastre
pan-americano, é que ele serve
de alerta para que o Brasil repense sua oferta de sediar a Copa de
2014 e a Olimpíada de 2016. Ao
contrário do que diz Lula, não há
hipocrisia em preterir gastos supérfluos, em especial quando octuplicam misteriosamente.
Texto Anterior: Editoriais: Bush em visita Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Minhas perguntas a Bush Índice
|