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A conta do Real
ELEONORA DE LUCENA
São Paulo - O número de desempregados no Brasil cresceu 52,8% no último janeiro em relação a dezembro.
Segundo os dados oficiais, 1,3 milhão
de pessoas procuram uma ocupação
nas seis principais regiões metropolitanas do país. Um recorde, só superado pelo mês de agosto de 84, quando a
recessão da chamada "década perdida" batia no fundo do poço.
Naquela época, o regime militar ensaiava sua partida. A campanha pelas
eleições diretas empolgava o país, e a
possibilidade de um presidente civil
trazia ares de otimismo. Estavam ficando para trás a crise do petróleo, a
maxidesvalorização e a política de arrocho salarial.
Naquele mesmo ano, a agricultura e
alguns setores industriais começaram
a mostrar sinais de reação. A volta da
democracia trouxe crescimento, emprego -e inflação. Em 86, o Cruzado
acelerou de vez a economia.
Em 84, por pior que fosse a situação,
havia uma saída (política e econômica) no horizonte para o desemprego.
Hoje, não é possível enxergar como esse quadro possa mudar sensivelmente.
Isso porque o atual modelo engessa o
crescimento econômico.
O câmbio valorizado gerou uma dependência externa que cerceia os movimentos das autoridades daqui. O
Brasil precisa desesperadamente de
dólares para manter o modelo e seguir
com inflação baixa. O crash global
mostrou a vulnerabilidade do sistema:
a fuga frenética de dólares parecia antecipar a ruína do Real.
A saída foi aumentar os juros para
premiar mais os investidores que têm
dólares. E, com isso, salvar o plano -e
a reeleição. O custo: brecar o crescimento, cortar importações e, em consequência, estimular o corte de vagas.
Como diz o presidente Fernando
Henrique Cardoso, a solução para o
desemprego é o crescimento econômico. Mas não há grande crescimento à
vista. Se, no ano passado, a produção
nacional cresceu 3%, para 98 a projeção oficial é de 2%. Ou seja, a horda
dos sem-emprego só vai aumentar.
É o custo do Real. Quem está pagando a conta primeiro são os que perdem
emprego. Quem pagará depois?
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