São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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A conta do Real

ELEONORA DE LUCENA

São Paulo - O número de desempregados no Brasil cresceu 52,8% no último janeiro em relação a dezembro. Segundo os dados oficiais, 1,3 milhão de pessoas procuram uma ocupação nas seis principais regiões metropolitanas do país. Um recorde, só superado pelo mês de agosto de 84, quando a recessão da chamada "década perdida" batia no fundo do poço.
Naquela época, o regime militar ensaiava sua partida. A campanha pelas eleições diretas empolgava o país, e a possibilidade de um presidente civil trazia ares de otimismo. Estavam ficando para trás a crise do petróleo, a maxidesvalorização e a política de arrocho salarial.
Naquele mesmo ano, a agricultura e alguns setores industriais começaram a mostrar sinais de reação. A volta da democracia trouxe crescimento, emprego -e inflação. Em 86, o Cruzado acelerou de vez a economia.
Em 84, por pior que fosse a situação, havia uma saída (política e econômica) no horizonte para o desemprego. Hoje, não é possível enxergar como esse quadro possa mudar sensivelmente. Isso porque o atual modelo engessa o crescimento econômico.
O câmbio valorizado gerou uma dependência externa que cerceia os movimentos das autoridades daqui. O Brasil precisa desesperadamente de dólares para manter o modelo e seguir com inflação baixa. O crash global mostrou a vulnerabilidade do sistema: a fuga frenética de dólares parecia antecipar a ruína do Real.
A saída foi aumentar os juros para premiar mais os investidores que têm dólares. E, com isso, salvar o plano -e a reeleição. O custo: brecar o crescimento, cortar importações e, em consequência, estimular o corte de vagas.
Como diz o presidente Fernando Henrique Cardoso, a solução para o desemprego é o crescimento econômico. Mas não há grande crescimento à vista. Se, no ano passado, a produção nacional cresceu 3%, para 98 a projeção oficial é de 2%. Ou seja, a horda dos sem-emprego só vai aumentar.
É o custo do Real. Quem está pagando a conta primeiro são os que perdem emprego. Quem pagará depois?



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