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Com os olhos abertos
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
No passado, o valor de uma ação estava atrelado ao patrimônio da empresa. Hoje, está engatado ao número
de seus consumidores, independentemente do patrimônio. É a chamada
"nova economia" das empresas virtuais.
As empresas virtuais não possuem
máquinas. Mas elas se dizem valiosas
por terem muitos consumidores. Inúmeras pessoas compram suas ações
porque tais empresas provam ter vendido bem nos últimos anos e prometem repetir o feito indefinidamente.
Alan Greenspan não se cansa de dizer que as Bolsas estão superaquecidas. Pouco têm adiantado os seus alertas. Para muitos, a "velha economia"
já recebeu o atestado de óbito.
Na nova economia, dizem, os princípios são outros, na maioria contrários
aos da velha economia: quando os juros sobem, o consumo aumenta -em
lugar de cair-, a Bolsa dispara -em
vez de despencar- e a economia se
expande.
Ao se indagar sobre o porquê dessa
reviravolta de princípios, na qual nem
a subida do preço do petróleo afeta os
novos negócios, o administrador da
empresa virtual diz: "Eu não tenho caminhões e não consumo petróleo. Por
isso, esse preço não me abala e os
meus acionistas sabem disso, razão
pela qual as minhas ações continuam
subindo. O meu negócio independe
da Opep".
Qual é a sobrevida dessa artificialidade? Afinal, as empresas virtuais
vendem o que foi produzido por alguém que vive no mundo real. Elas
têm como consumidores os trabalhadores cujos empregos estão nas empresas reais.
É claro que muita coisa mudou e que
as novas tecnologias abriram um novo mundo para os negócios. Mas há limites. Se a ação de uma empresa virtual tem uma boa relação entre preço e
lucro nos dias atuais, isso não significa
que será assim pelo resto da vida. Outros investidores deverão surgir para
oferecer os mesmos bens e serviços
por preços menores, flagrando o artificialismo das Bolsas.
O mundo já viveu outras bolhas de
euforia que tiveram um fim trágico.
Assim aconteceu com o "crash" da
Wall Street em 1929 e com o "crack"
do Japão em 1998.
As pessoas que hoje vivem os dias de
glória porque detêm em sua carteira
uma enormidade de papéis virtuais
podem acordar amanhã com uma desagradável surpresa se as empresas
reais tiverem problemas para produzir e vender.
Os especialistas estimam que a Bolsa
americana está sobrevalorizada em
aproximadamente 60%. Os americanos gastam 6% acima do que podem
com base na falsa euforia da propriedade de papéis virtuais (Ruben Almonacid e Humberto Spolador, "Para
Onde Vai a Economia Americana?",
Fipe, fevereiro de 2000).
Ninguém deseja a catástrofe, é claro.
Mas está na hora de as pessoas desconfiarem que ninguém vai enriquecer separando-se dos investimentos e
do trabalho produtivos. O ilusionismo
é sempre agradável. Mas desvanece na
hora em que o espetáculo termina.
Abra os olhos.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos
nesta coluna.
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