São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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Vítimas da semana

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Semanazinha de lascar, esta que passou. A briga entre dois senadores vitimou-nos a todos. Pelé fez um desabafo emocional, mas, enfim, falou pela gente, disse o que sentimos. Documentos importantes sumiram do Banco Central.
O jornalista Fernando Rodrigues, mais uma vez, lembrou que aquela história das contas do Caribe não acabou. Paulo Henrique Amorim foi agredido por bandidos em seu prédio, teve costelas fraturadas. Num quadro desolador como esse, a absolvição de José Rainha mal dá para equilibrar as contas do inventário nacional.
O que está havendo com o Brasil? Deixamos de ser um país-beleza, abençoado pela natureza, como cantou o Jorge Benjor, que na época era apenas Jorge Ben?
O acúmulo de desditas me fez lembrar um dos últimos artigos de outro amigo, o Antônio Callado: ""Perdemos a âncora moral". Na época, só se falava em outro tipo de âncora, a cambial, que não passou de um embuste do governo.
Não sei por que, mas pulando do Jorge Ben, do Paulo Henrique Amorim e do Callado para Aníbal Barca, o general da Antiguidade que quase conquistou Roma, fico pensando no presidente da República viajando pelo mesmo Caribe onde as contas podem gerar o maior escândalo do nosso tempo.
Aníbal chegou às portas de Roma, após uma brilhante série de vitórias. Acampou em Cápua, a poucos quilômetros de sua presa. E ali entregou-se àquilo que os historiadores chamaram de ""delícias de Cápua". Gozou precocemente.
E teve de voltar correndo para Cartago, a fim de defender a rival de Roma. Perdeu feio. Cartago foi delendada, como queria Catão. Ou deletada da tela da história, como hoje se diria.
Desconfio que esta crônica saiu confusa. Um pouco por acaso, um pouco de propósito. Mas o recado é claro: continuamos vítimas de tudo.


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