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RUY CASTRO
Mamutes mecânicos
RIO DE JANEIRO - De algum
tempo para cá, nossas ruas têm sido
ocupadas por caminhões de vários
eixos, ônibus quase da altura de
prédios e toda espécie de jamantas,
além de jipes, camionetes e camburões "de passeio", mas capazes de
transportar até uma lancha. São
veículos ideais para estradas com 12
pistas ou, como os tanques, para
descampados onde esteja rolando
uma guerra. Em vez disso, rodam
pelas cidades com empáfia e agressividade assustadoras.
Confira o triunfalismo com que
se arremessam por ruas estreitas,
destruindo um asfalto que não foi
feito para aquele peso, e a superioridade de seus motoristas, alheios ao
fato de que os veículos estão ceifando as árvores sobre suas cabeças.
Será impossível frear a invasão desses mamutes mecânicos, impróprios para a vida urbana? Com todo
o respeito pelos mamutes.
Uma denúncia do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) é preocupante.
Em Petrópolis (RJ), 17 imóveis
tombados do centro histórico estão
com a estrutura ameaçada. O material de que foram feitos e suas técnicas de construção não previam que,
um dia, teriam de conviver com a
trepidação provocada pelos megatrambolhos que passam a metros
de suas portas.
As imagens não mentem: paredes
com rachaduras do chão ao teto
comprometem a integridade de
construções que, por quase cem
anos, receberam um imperador, 17
presidentes, a antiga elite brasileira
e uma das mais chiques e brilhantes
comunidades diplomáticas do
mundo. Muito do desenvolvimento
do Brasil nos séculos 19 e 20 se deu
entre as paredes de Petrópolis.
Pode-se dizer que essa história já
era, que o presente é outro e não
quer nem saber. Mas o presente que
atropela e esmaga o passado só terá,
no futuro, sua própria mediocridade a exibir. Se tiver futuro.
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