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Qual governo, qual oposição?
MARCO ANTONIO VILLA
O governo Lula vive de espasmos políticos, como se governar fosse a cada semana apresentar alguma notícia de impacto
O GOVERNO Lula vive de espasmos políticos: numa semana a
atenção está concentrada no
PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento); na outra, na divulgação do novo ministério; e, em outra,
na proposta do plebiscito. Porém tudo se esvai rapidamente. Nenhuma
discussão tem continuidade, como se
governar fosse a cada semana apresentar alguma notícia de impacto.
O acompanhamento administrativo das tarefas de governo continua relegado a plano secundário.
O presidente prefere discursar nas
cerimônias públicas, mesmo naquelas em que sua presença e suas palavras não são necessárias. Mas o microfone exerce uma atração fatal. O
presidente precisa falar: é uma forma
de se afirmar.
Isso também explica por que a posse dos ministros não é coletiva, mas
feita de forma homeopática: é sempre
mais uma oportunidade para discursar. E mais: Lula acredita que a palavra substitui a ação. Uma obra ou um
programa se realizam simplesmente
pelo desejo verbal.
As duas reformas ministeriais que
realizou (em 2005 e 2007), se forem
somadas, perfazem 10 meses. A de
2005 começou em novembro de 2004
e foi até março do ano seguinte. A
atual teve início logo após o segundo
turno da eleição presidencial. Mais do
que dificuldade para decidir, Lula tem
prazer em alongar essas discussões:
isso o retira da rotina administrativa,
da leitura de relatórios, de estudar alguns dos graves problemas nacionais.
A falta de iniciativa, de ousadia gerencial, transformou a gestão petista
numa arqueóloga de alguns êxitos de
gestões passadas. Nessa viagem pelo
túnel do tempo, Lula já chegou ao governo Geisel: basta recordar o programa Pró-Alcool -agora voltado para a
produção em larga escala do etanol-
e no incentivo de pesquisas petrolíferas nas áreas mais profundas da plataforma continental -como ocorreu
naqueles anos na bacia de Campos.
Lula sempre insistiu que tinha viajado de ônibus por todo o Brasil. E que
ninguém conhecia mais o Brasil do
que ele. Vê-se que de pouco adiantou.
Não deve ter prestado atenção na diversidade regional.
Quando vai a Manaus, não apresenta nenhuma nova idéia, a não ser
manter os incentivos fiscais à Zona
Franca, criada pelo regime militar.
Visita o Nordeste e abre o baú. Dele
retira, empoeirada, a idéia da transposição das águas do rio São Francisco, apresentada pela primeira vez,
ainda que de forma rudimentar, em
1818. Para o maior problema do país,
segundo pesquisa Datafolha, a segurança pública, até o momento só
apresentou discursos e mais discursos, sempre acompanhado de metáforas de gosto duvidoso.
O governo Lula conseguiu despolitizar a política, como ocorreu na formação do atual ministério, que, em
vez de uma coalização, formou um
"ajuntamento" de 11 partidos, o maior
da história do Brasil, como poderá
propalar o presidente aos quatro ventos. Excetuando provavelmente o PT,
nenhum dos partidos do "ajuntamento" tem idéia das razões para fazer
parte do governo, além, é claro, da importância dos cargos como instrumento de arrecadação de recursos financeiros para a próxima campanha
eleitoral.
Apesar de tudo, Lula continua sendo muito bem avaliado pelos eleitores. Sem um contradiscurso oposicionista, só resta ao eleitor ouvir o discurso oficial. Não tem um contraponto. Não há o que comparar. Portanto,
não cabe demonizar o eleitor.
Se o resultado do Datafolha, em
parte, deve ser creditado ao talento
comunicativo do presidente e a algumas realizações do passado que manteve (como o Bolsa Família, sensivelmente ampliado), o maior responsável pelo resultado é a inépcia da oposição, que não sabe ser oposição, vigilante, combativa e propositiva.
Até hoje, a oposição não apresentou
sequer um programa mínimo de governo, instrumento indispensável para o combate político. Quando muito,
obstruiu os trabalhos legislativos no
Congresso Nacional, medida muito
mais de desespero do que de estratégia política. A maioria dos eleitores
não sabe por que a oposição é oposição. Imagina que tudo não passa de
ressentimento eleitoral.
Mas há aqueles que não querem ser
oposição, como o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder da minoria.
Este já disse que Lula está amadurecido (?), pegou carona no AeroLula e
elogiou a ação de Henrique Meirelles
à frente do Banco Central. Sem esquecer os largos elogios ao ex-ministro Palocci na CPMI, no auge da crise
da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo. Fez questão de dizer naquela sessão que era amigo do
então ministro e que apoiava a política econômica do governo.
Será que no país do herói sem nenhum caráter também temos a oposição macunaímica?
MARCO ANTONIO VILLA, 51, é professor de história do
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (SP) e autor, entre outros livros, de "Jango, um Perfil".
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