São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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Editoriais

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A condenação de Fujimori

PARA O bem e para o mal, Alberto Fujimori é um marco na política do Peru -e, de certo modo, da própria América do Sul. Sua década de mando na Presidência dividiu águas na história recente do país. Não foi menos simbólica sua condenação, anteontem, a 25 anos de cárcere, sentença da qual já recorreu.
O ex-reitor universitário que, de surpresa, venceu a eleição de 1990 foi um dos primeiros líderes regionais, na safra de redemocratizações do final do século 20, cuja ascensão revelou uma profunda descrença popular em partidos, lideranças e instituições tradicionais. O "outsider" Fujimori surgiu da ruína econômica e da explosão de violência legadas pelo primeiro governo de Alan García, da velha Apra (conglomerado de forças da esquerda nacionalista peruana).
O inexperiente político de ascendência japonesa desde cedo pôs-se a capitalizar esse difuso descontentamento social. Enquanto na economia assumia o reformismo ultramercadista, debelando a hiperinflação, deslanchava guerra total contra a guerrilha maoísta Sendero Luminoso, um dos grupos terroristas mais sanguinários que já atuaram na América do Sul.
Em paralelo ao estrangulamento dos rebeldes -processo no qual soçobrou também a guerrilha marxista Tupac Amaru-, estava em marcha um projeto autoritário. Em 1992, Fujimori liderou, com apoio militar, um golpe que dissolveu o Congresso e a Justiça. Passou, então, a reformar as instituições, atrelando-as ao jugo da Presidência.
Como ocorre com tantas figuras providenciais, a aventura de Fujimori terminou em desgraça. Fugiu do Peru em 2000, humilhado, em meio a estrepitoso escândalo de corrupção. Preso na volta, agora é condenado pelas violações a direitos humanos cometidas no combate à guerrilha.
Revigorada sai a sociedade peruana. O país rejeitou a herança autoritária de Fujimori e julga seu ex-presidente dentro das regras do Estado de Direito.


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