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CLÓVIS ROSSI
A casa, a casta, a roupa lavada
SÃO PAULO - A propósito da catarata de escândalos políticos, o leitor
Edgard Lopes escreve para perguntar: "Será que esse pessoal não sofreu uma mutação genética que os
faz pensar diferente, agir diferente
e sentir diferente?".
É possível, Edgard, bem possível.
Mas a mutação começou faz tempo
e foi tomando formas cada vez mais
horrendas. Os políticos transformaram-se em casta, com as exceções de praxe, que são cada vez em
menor número.
Onde os seres humanos normais
veem o absurdo, os mutantes veem
direitos adquiridos. Tome-se o caso
dos apartamentos funcionais.
A
discussão do momento gira em torno de estabelecer se é mais caro ou
mais barato reformar os apartamentos dos pais da pátria e dividi-los para que todos tenham direito a
um bom apartamento funcional em
vez de gastar dinheiro com o tal auxílio-moradia.
Esse tipo de atalho evidencia o
quanto de direito adquirido se sentem detentores os congressistas.
Exigem casa, comida e roupa lavada, além de um salário que, para os
padrões brasileiros, é bom.
Em vez de discutir reforma x auxílio moradia, o que a sociedade deveria discutir é se seus representantes têm ou não direito a casa, comida e roupa lavada -expressão que
estou usando, como é óbvio, para
designar o portentoso leque de
mordomias de que gozam os
congressistas.
Salvo o primeiro escalão da administração pública federal, salvo os
governadores, nenhum outro funcionário, público ou privado, têm
direito a, por exemplo, moradia. Paga do seu bolso. Ponto.
Por que o congressista é melhor
do que os outros? Faz um sacrifício
em nome do bem comum? Antes de
morrer de rir com minha santa ingenuidade, admita que um ou outro
pode até fazer. Mas, ao se candidatar, já sabe disso, e é bem pago para
tanto. O resto veio de acréscimo para criar uma casta.
crossi@uol.com.br
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