São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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KENNETH MAXWELL

Graus de separação

OS NÚMEROS do desemprego nos EUA divulgados na sexta-feira são deprimentes. No mês passado, desapareceram 663 mil empregos, o que eleva o total de postos de trabalho perdidos a mais de 5 milhões desde que a recessão começou. Isso representa um índice nacional de 8,5%, o mais alto em 25 anos.
A despeito das declarações otimistas do governo quanto a uma recuperação econômica, a desaceleração continua. Os salários caíram 4% no mês passado. O setor industrial cortou 126 mil trabalhadores, e o de serviços, outros 133 mil. Além disso, essas estatísticas não incluem as pessoas que gostariam de um emprego em tempo integral, mas se acomodaram a trabalhos de tempo parcial.
Caso esses indivíduos fossem computados, a proporção de desempregados seria de 15,6%. Pessoas com alto nível educacional também têm dificuldades para obter empregos. Na cidade de Nova York, por exemplo, há 35 mil portadores de diplomas universitários recebendo benefícios desemprego. Robert Reich, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e antigo secretário do Trabalho na gestão Clinton, resumiu a situação em seu blog, na sexta-feira: "No momento, um em cada seis trabalhadores dos EUA está desempregado ou subempregado. Cada cidadão norte-americano está agora a dois graus de separação de alguém que está desempregado".
Mas e quanto ao topo da pirâmide? A edição de domingo do "New York Times" acrescentou alguns detalhes específicos ao divulgar os valores dos salários e benefícios de 200 presidentes-executivos de empresas. Lawrence Ellison, da Oracle, recebeu US$ 84,6 milhões. Kenneth Chennault, da American Express, faturou US$ 42,8 milhões.
Vikram Pandit, do Citigroup, levou US$ 38,2 milhões. O presidente-executivo médio recebe salário 300 vezes maior que o do trabalhador médio. Robert Rubin, antigo secretário do Tesouro, recebeu US$ 126 milhões pelos oito anos como presidente do conselho do Citigroup. O Citigroup, claro, recebeu bilhões numa imensa operação de resgate.
Lawrence Summers -que sucedeu Rubin no Tesouro, foi reitor da Universidade Harvard por cinco anos e hoje é o principal assessor econômico do presidente Obama- faturou US$ 5,2 milhões no ano passado por seu emprego de um dia por semana em um fundo de hedge e com as cerca de 40 palestras pagas que proferiu, entre as quais uma no Goldman Sachs, pela qual recebeu honorários de US$ 135 mil, e dois eventos no Citigroup, que lhe valeram US$ 99 mil.
Evidentemente estamos entregando a guarda do galinheiro às raposas.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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