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CARLOS HEITOR CONY
A terra treme
RIO DE JANEIRO - A definição é
de Federico Fellini: "A Itália é uma
capela histórica, cheia de obras de
arte e de papas ali enterrados". O
terremoto desta semana, nas proximidades de Áquila, espantou o
mundo não tanto pelo número de
vítimas e pelos estragos materiais.
Em outras regiões, no México, no
Japão, em São Francisco (1906), em
Lisboa (1755), o desastre foi bem
maior. Não se trata de relativizar a
tragédia. Mesmo assim, a comoção
é grande.
Grande também foi a reprovação
à atitude do chefe de Estado Silvio
Berlusconi, que, em sua primeira
aparição após o terremoto, dispensou a ajuda internacional, garantindo que os italianos são orgulhosos e
capazes de, sozinhos, enfrentar a
adversidade: milhares de desabrigados e centenas de mortos.
Um tipo de machismo ridículo. A
ajuda humanitária provocada por
um desastre de grande porte faz
parte da tradição entre os povos,
independentemente de seus regimes políticos e de seus estágios
civilizatórios.
Não faz muito tempo, um submarino nuclear russo, o Kursk, obra-prima da engenharia naval, afundou com mais de cem tripulantes a
bordo. Vários países ofereceram
ajuda para recuperar os possíveis
sobreviventes. Os russos dispensaram o auxílio internacional, provavelmente para garantir o segredo de
alguns equipamentos.
No caso de Áquila, não há segredo
militar em causa. Vi, numa das fotos
do desastre, uma bela cúpula do
"settecento" suspensa no ar, mas
não intacta, como aquele quarto do
poeta Manuel Bandeira. Acredita-se que o governo fará o que for possível e necessário para minimizar o
desastre, mas não deveria esnobar a
ajuda internacional
Comecei a crônica citando Fellini. Vou encerrá-la com outro italiano, Benito Mussolini: "Não é difícil
governar os italianos. É inútil".
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