São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

Uai, sô!

BRASÍLIA - Na semana do lançamento de José Serra à Presidência, que será amanhã, em Brasília, Dilma Rousseff empenhou-se em reaprender o "mineirês" da infância e em dividir os adversários, jogando montes de desconfiança sobre a lealdade de Aécio Neves e do seu candidato ao governo, Antonio Anastasia, ao PSDB e a Serra.
Depois do "Lulécio" de 2006 para sugerir o voto mineiro em Lula para presidente e em Aécio para governador, Dilma agora joga a cizânia no solo adversário ao pregar o voto "Dilmasia" ou "Anastadilma", enquanto se lê numa coluna que Aécio sai do lançamento de Serra e some e, em outra, que Anastasia, mal senta na dupla cadeira de governador e candidato, já vai alegre e saltitante falar com Lula, com o atual vice Alencar e com o vice da chapa de Dilma, Michel Temer. Bingo. Foi ontem mesmo.
Abrem-se dúvidas e velhas feridas no PSDB, partido que em boa dose lavou as mãos para Serra em 2002 e para Alckmin em 2006 e que é capaz de demorar horas e horas para reagir a algo elementar: o teatro de Dilma no túmulo de Tancredo Neves. O PT não apenas se recusou a apoiar Tancredo em 1985 como chegou a ponto de empurrar porta afora três de seus deputados federais que ficaram com ele.
Mais curioso ainda foi o silêncio de Aécio. O povo tem memória curta, mas o próprio neto de Tancredo não poderia se esquecer da desfeita do PT num momento chave e afinal dramático da história brasileira.
Minas está no centro da campanha, e Aécio se sujeita a estar no centro de uma disputa ferrenha entre Serra e Dilma, entre PSDB e PT.
No mínimo, está ostensivamente deixando grassar a incerteza sobre quem é e o que quer. Um risco.
Na festa tucana de amanhã, Aécio, o nome dos sonhos tucanos para a vice, fará um dos mais entusiastas discursos pró-Serra. Mas, em política, discursos dizem pouco.
Gestos, sugestões e notinhas em jornais dizem muito mais.

elianec@uol.com.br


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