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RUY CASTRO
Poleiros da Morte
RIO DE JANEIRO - O rastro de
dor deixado pelas chuvas deveria levar o Rio à solução do problema das
moradias em áreas de risco imediato: a retirada de 100% dos habitantes dessas áreas e, enquanto não se
constroem as casas populares, sua
transferência para os milhares de
imóveis sem uso na cidade, pertencentes à prefeitura, ao Estado e à
União.
Nunca houve melhores condições para isto. Pela primeira vez, os
três estão alinhados e é do interesse
de cada um apoiar os outros dois. É
ano eleitoral e, nem que seja para
atrair votos, nunca uma boa causa
foi tão óbvia como plataforma.
E a comoção gerada pela tragédia
livrará essa medida de qualquer patrulha, ideológica ou demagógica.
Foi-se o tempo em que Zé Kéti, instrumentado por intelectuais, cantava, "Podem me prender, podem
me bater/ podem até deixar-me
sem comer/ que eu não mudo de
opinião/ daqui do morro eu não
saio, não". A ocupação dos morros é
irreversível, mas as pessoas não podem morar em poleiros sujeitos a
deslizar rumo à morte, com barranco e tudo.
Assim como se sabe da existência
de 10 mil moradias em risco, deve
haver um levantamento de imóveis
públicos subutilizados ou fechados
no Centro da cidade, que poderiam
receber famílias de forma permanente pagando aluguéis simbólicos.
O próprio Centro sairia ganhando,
com a recuperação desses velhos
casarões e sobrados e com a fixação
de famílias numa área confortavelmente próxima da zona sul, com todos os equipamentos para voltar a
ser residencial.
Há, sim, o dinheiro para isso. Viria de várias fontes, inclusive particulares. E melhor ainda se os valores que Lula sempre anuncia nessas
ocasiões se materializassem. O normal é ele prometer 10, liberar 3 e fazer de conta que bravatas compensam pelos 7 restantes.
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