São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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RUY CASTRO

Poleiros da Morte

RIO DE JANEIRO - O rastro de dor deixado pelas chuvas deveria levar o Rio à solução do problema das moradias em áreas de risco imediato: a retirada de 100% dos habitantes dessas áreas e, enquanto não se constroem as casas populares, sua transferência para os milhares de imóveis sem uso na cidade, pertencentes à prefeitura, ao Estado e à União.
Nunca houve melhores condições para isto. Pela primeira vez, os três estão alinhados e é do interesse de cada um apoiar os outros dois. É ano eleitoral e, nem que seja para atrair votos, nunca uma boa causa foi tão óbvia como plataforma.
E a comoção gerada pela tragédia livrará essa medida de qualquer patrulha, ideológica ou demagógica. Foi-se o tempo em que Zé Kéti, instrumentado por intelectuais, cantava, "Podem me prender, podem me bater/ podem até deixar-me sem comer/ que eu não mudo de opinião/ daqui do morro eu não saio, não". A ocupação dos morros é irreversível, mas as pessoas não podem morar em poleiros sujeitos a deslizar rumo à morte, com barranco e tudo.
Assim como se sabe da existência de 10 mil moradias em risco, deve haver um levantamento de imóveis públicos subutilizados ou fechados no Centro da cidade, que poderiam receber famílias de forma permanente pagando aluguéis simbólicos. O próprio Centro sairia ganhando, com a recuperação desses velhos casarões e sobrados e com a fixação de famílias numa área confortavelmente próxima da zona sul, com todos os equipamentos para voltar a ser residencial.
Há, sim, o dinheiro para isso. Viria de várias fontes, inclusive particulares. E melhor ainda se os valores que Lula sempre anuncia nessas ocasiões se materializassem. O normal é ele prometer 10, liberar 3 e fazer de conta que bravatas compensam pelos 7 restantes.


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