São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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MARCHA LENTA

Já não faltam evidências de que a atividade econômica está fraca. O IBGE apurou que a produção da indústria brasileira caiu 0,8% de fevereiro para março. Dentre muitos, esse é o sinal mais nítido de debilidade da produção, por sua abrangência nacional.
É importante situar o resultado de março dentro da trajetória recente da produção industrial. Sob o impacto da elevação da taxa de juros e do racionamento de energia, a produção industrial caiu bastante entre junho e outubro do ano passado. A seguir, entre novembro e janeiro, quando ficou claro que o fim do racionamento era iminente, a produção teve alta rápida, voltando ao patamar "normal" de antes do início do racionamento. Já em fevereiro deste ano, completada a "normalização", a produção teve nova alta, porém modesta.
Esperava-se para março mais um incremento da produção, até por tratar-se do primeiro mês após a efetiva suspensão do racionamento. Mas os números divulgados ontem revelaram desempenho débil generalizado entre os setores da indústria. A pior performance foi a da produção de bens de capital -que reflete as decisões de investimento, especialmente sensíveis à oferta de crédito (que segue estagnada) e às expectativas.
A decepção produzida pelo resultado da indústria em março tende a reforçar a onda de ceticismo surgida nas últimas semanas. Essa piora das expectativas quanto ao desempenho da economia teve início com a decisão do Banco Central de não reduzir, em abril, a taxa de juros básica, frustrando a aposta de que haveria corte.
Todos sabem que as decisões de comprar e de produzir são muito influenciadas pelo que se espera do futuro. A previsão média do mercado de que o PIB crescerá mais de 2% neste ano está assentada na suposição de que os juros cairão progressivamente nos próximos meses, chegando perto de 16,5% em dezembro.
O Banco Central se reúne no próximo dia 22 para voltar a deliberar a respeito da taxa de juros básica. O mercado hoje projeta que a inflação fechará o ano com alta muito próxima de 5,5%, taxa que representa o limite superior definido pela política de metas de inflação -e os agentes privados não têm demonstrado maior preocupação diante dessa perspectiva. A depender do grau de rigidez antiinflacionária que revelar, o BC poderá sancionar, ou começar a reverter, a piora das expectativas sobre a atividade econômica.



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