São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

PMDB livre de coligação

ORESTES QUÉRCIA

Em junho, a convenção nacional do PMDB terá uma responsabilidade histórica com a nação. As decisões que o PMDB tomará serão determinantes na definição do quadro eleitoral.
Por um lado, a direção nacional do partido, insensível aos desejos da maioria absoluta dos filiados, usa todos os meios para aprovar uma coligação com o governo. Por outro, os companheiros que defenderam candidatura própria, agora, frustrados nos seus legítimos interesses pelas manobras da direção partidária, deverão exigir e, com a ajuda de Deus, conseguir afastar o partido dessa indesejada coligação.
O mais valioso patrimônio do PMDB é a sua história. Respeitá-la e valorizá-la deve ser um dos princípios de cada peemedebista autêntico. Ela conta o empenho do partido e sua luta, durante o regime militar, como instrumento fundamental para redemocratizar o Brasil. A folha corrida do PMDB registra incontáveis serviços prestados ao país. Basta lembrar, por exemplo, a emocionante campanha das Diretas-Já, a atuação na Constituinte de 1988 e todo o processo de anistia política, entre outros.
Há alguns meses essa história foi atingida pelo revés provocado pela própria Executiva Nacional do partido, que se mostrou insensível e incapaz de honrar a história do PMDB, em um gesto de autêntica traição aos princípios do partido. Essa Executiva viu, juntamente com a opinião pública, na Convenção Nacional do partido, realizada em 9 de setembro de 2001, a tese da candidatura própria receber 98,7% dos votos. Foi, inclusive, eleita defendendo esse ponto de vista.
Mas, no apagar das luzes da convenção, numa atitude de força, começou a inviabilizar o projeto da candidatura própria do PMDB para a Presidência da República, que, além de ser vontade da maioria do partido, seria o caminho natural, em respeito à sua história.
A tática adotada foi a de boicotar a candidatura do governador Itamar Franco, desestimular a candidatura do senador Pedro Simon e se alinhar à política econômica do governo, que destrói os nossos sonhos pelo desenvolvimento do Brasil.


A tática foi se alinhar à política econômica do governo, que destrói os nossos sonhos pelo desenvolvimento do Brasil


Atrelar o PMDB ao atual governo é falta grave. Há oito anos o Brasil era a oitava economia mundial. Hoje, ocupa, nessa mesma lista, o 11º lugar. Quem assiste na televisão às campanhas publicitárias do governo tem a impressão de que o Brasil melhorou. Mas isso é apenas ilusão do marketing caríssimo, fabricado a serviço da impostura. Para comprovar, basta sair às ruas e falar com o povo, com os empresários e trabalhadores responsáveis pela produção nacional.
O PMDB acredita em liberdade. Acredita na competência, no trabalho e na visão de um mundo mais humano, mais justo e na mobilização da sociedade em torno de um projeto para o Brasil cuja ênfase é o seu crescimento. É preciso deixar de ignorar a exclusão social. É preciso parar de minimizar a violência cotidiana e as dificuldades materiais da vida. É preciso reconquistar o desenvolvimento de cabeça erguida.
Resta ao PMDB, diante desse quadro, entrar na luta, com o suporte das lideranças mais responsáveis do partido em todo o país, incluindo o apoio decisivo do ex-presidente José Sarney, e rejeitar, na convenção de junho, a inconveniente coligação com o partido do governo.
O PMDB deve, portanto, deixar livres os seus diretórios em benefício de sua atuação em cada Estado. Não podemos correr o risco de ligar nosso partido a esse quadro indesejável, danoso aos interesses nacionais a que nos levou o governo FHC. Quadro que todos nós, brasileiros, precisamos corrigir. O Brasil sempre cresceu, quando não tinha à frente dos seus destinos tecnocratas sem pátria e alheios aos interesses da nação.
A história do PMDB lhe impõe grandes responsabilidades. Entre elas, a de lutar para recolocar o Brasil no caminho do crescimento, em que o desenvolvimento seja a tônica e gere prosperidade para todos os brasileiros.


Orestes Quércia, 63, presidente do PMDB de São Paulo, foi governador do Estado (1987-91), presidente nacional do PMDB (1991-93), senador pelo MDB de São Paulo (1975-83) e candidato à Presidência da República em 1994.



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