São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A tortura da incompetência

BRUXELAS - Começou com os malchamados radicais, expulsos do PT pelo crime de serem coerentes com tudo o que o partido defendeu durante seus primeiros 23 anos de vida (antes de chegar ao governo, claro, que depois ninguém é de ferro).
Agora, o PT tira o senador Paulo Paim (RS) da comissão mista do Congresso que vai examinar o reajuste do salário mínimo, o que equivale a uma expulsão branca.
Paulo Paim foi, durante anos e anos, a face visível do PT na questão do salário mínimo. Infernizou a vida de todos os ministros que propuseram reajustes ridículos para o mínimo. Certo ou errado, jamais foi desautorizado pelo PT. Ao contrário, foi sempre utilizado pelo partido para mostrar à opinião pública o quanto o partido se preocupava com os pobres. Agora, é jogado fora sem mais nem menos. Vê-se, pois, que contratar um trambiqueiro como Waldomiro Diniz para trabalhar em pleno Palácio do Planalto é o menor dos pecados éticos cometidos pelo new PT.
O velho PT, aliás, demonstra que não serviu para rigorosamente nada, a não ser como veículo eleitoral.
Afinal, seu líder máximo, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu sub-líder, o ministro José Dirceu, estão propondo desvincular o mínimo da Previdência, a pretexto de permitir um reajuste maior do mínimo.
Aí vem o ministro Ricardo Berzoini e mostra que a desvinculação afetaria negativamente 13 milhões de aposentados e só geraria efeitos positivos para cerca de 3 milhões de trabalhadores do setor formal.
Visto de outro ângulo, significa o seguinte: o PT de Lula e Dirceu não conseguiu, em seus 23 anos de vida, descobrir como fazer para, ao chegar ao poder, melhorar o mínimo, a ponto de inventar de supetão uma fórmula que até um de seus liderados acha um "sinal social negativo".
Pode ser que Berzoini também seja expulso, mas o mais decente seria que Lula e cia. dessem uma de Donald Rumsfeld e aceitassem a responsabilidade pela tortura cotidiana que estão impondo ao país.


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