São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Nada como o bom senso

Não é novidade que os alunos desprotegidos têm mais dificuldade para entrar e permanecer nas boas universidades. Nestas, o vestibular é rigoroso e as exigências são elevadas, o que favorece a entrada e permanência de estudantes mais bem preparados em detrimento dos demais, sejam eles negros, pardos, residentes das periferias ou egressos de escolas públicas de nível médio.
Nesses casos, os fatores de discriminação se juntam à precariedade de suas famílias e à má qualidade das escolas que freqüentaram, dando como resultado final a referida dificuldade para usufruir das boas faculdades. Isso é intolerável e exige mecanismos de compensação.
A resposta mais apressada foi a criação de cotas. O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, aprovou uma lei que reserva 50% das vagas nas universidades estaduais para egressos da rede pública de ensino médio. As universidades realizaram dois vestibulares: um tradicional e mais difícil, destinado aos alunos em geral, e outro inovador e mais fácil, para atender à cota.
Os resultados foram desastrosos. Entre os candidatos ao curso de odontologia, por exemplo, a menor nota obtida no vestibular tradicional foi de 77,5 (em uma escala de zero a cem), enquanto o último aprovado no vestibular da cota teve nota 6,25! Ou seja, muitos alunos do primeiro grupo ficaram de fora apesar de estarem mais bem preparados. Um escândalo!
O caso já chegou ao Supremo Tribunal Federal uma vez que a Carta Magna assegura igualdade de condições para acesso à educação. Está aí. Ao pretender proteger os desprotegidos, o sistema de cotas excluiu os bons e gerou uma imensidão de conflitos que só tendem a aumentar.
O governo do Estado de São Paulo resolveu seguir um outro caminho. Em lugar de assegurar vagas para quem está mal preparado, a Secretaria da Educação criou cursinhos especiais para melhorar a sua preparação e a sua capacidade de concorrer nos vestibulares existentes. Trata-se de uma ação que foi à raiz do problema. Se a preparação foi fraca, vamos remediá-la e oferecer para esses alunos algo especial para compensar suas vulnerabilidades.
Rapidamente, o secretário da Educação de São Paulo, professor Gabriel Chalita, organizou o programa Pró-Universitário, abrindo 5.000 vagas na zona leste da capital com apoio dos estudantes da USP (que serão os professores) e se prepara para abrir mais de 12 mil vagas em outras cidades do Estado com o apoio de estudantes da Unesp.
Muitos argumentarão, com maldade, que essa é uma confissão de que a escola média do setor público é ineficiente. Ora, vamos deixar os sofismas de lado e apoiar as ações que podem resolver o problema. O aluno que tem dificuldade de entrar em boas universidades precisa ser ajudado. A melhor maneira é elevar o seu nível para competir. A iniciativa só merece aplauso. É prática, útil e não cria novas discriminações. Nada como o bom senso.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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