|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOÃO SAYAD
Conclusão
O Brasil gasta 25% do PIB com
educação, saúde, previdência e
assistência social. Gasta 15% do PIB
com a Previdência Social. O governo
brasileiro gasta mais na área social do
que o Japão ou os Estados Unidos.
A situação fiscal é semelhante em
muitos países latino-americanos: aumento dos gastos sociais e dívida pública elevada por causa de crises monetárias dos últimos 20 anos. Muitos
governos se endividaram para garantir a sobrevalorização cambial ou para
pagar os prejuízos bancários decorrentes da desvalorização que se seguiu.
As despesas da Previdência não deveriam ser chamadas "gastos sociais".
Gastos públicos são gastos financiados por impostos gerais: o Imposto de
Renda financia as universidades. As
empresas pagam impostos e o governo decide onde gastar. No caso, gasta
com a universidade.
A conta de luz financia a empresa de
energia. Ainda que a empresa fosse totalmente estatal, a despesa não é gasto
público mesmo que fosse contabilizada no orçamento. Quem decidiu "gastar" foi o consumidor de energia e não
o governo ou o Legislativo.
As despesas da previdência privada
são financiadas pelos empregados e
empregadores. Pagam na expectativa
de receber aposentadorias no futuro,
como quem paga a conta de luz quer
ter o serviço de eletricidade. Aliás, pagam mais do que o necessário, pois financiam aposentadorias e gastos de
assistência social, no caso da previdência privada. Assim, previdência
não é gasto público ou social. Tirando
a previdência, os gastos sociais representam 10% do PIB.
O crescimento dos gastos sociais,
por outro lado, resulta de dois fatores:
em primeiro lugar, a intenção declarada de direcionar os gastos públicos
para a área social. A educação no Brasil atinge número cada vez maior de
alunos. Ainda que a qualidade seja
precária, pois gastamos apenas 1.500
reais por aluno do ensino básico por
ano. Com o tempo, no futuro, se os
"gastos sociais" continuarem, a qualidade pode melhorar. É preciso persistir.
Em segundo lugar, o aumento dos
gastos sociais decorre da estagnação
dos últimos 20 anos. São gastos que
tentam aliviar a crueldade da miséria
causada pelas crises monetárias dos
últimos 20 anos.
Não é possível concluir que poderíamos gastar "melhor" ou acabar com o
ensino gratuito. Nem concluir que
precisamos destruir a universidade
pública brasileira porque os custos de
pesquisa e da pós-graduação são altos.
A complexidade e diversidade da universidade brasileira permitiram ao
Brasil se destacar na região em termos
de ciência e tecnologia.
A única conclusão que se pode tirar
sobre os gastos sociais brasileiros é
que falta dinheiro para infra-estrutura. Enquanto a China constrói sistema
ferroviário e rodoviário iguais aos dos
Estados Unidos, a América Latina se
contorce para construir estradas de
pista única com parcerias público-privadas. De onde pode sair o dinheiro?
jsayad@attglobal.net
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Ticos-ticos no fubá Próximo Texto: Frases
Índice
|