São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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ECOS DO MENSALÃO

De todos os dirigentes do Partido dos Trabalhadores flagrados nos desmandos do mensalão, Silvio Pereira parece o menos propenso a aceitar calado o papel de bode expiatório. Já não é a primeira vez que o ex-secretário-geral lança seus torpedos pela imprensa contra a cúpula da legenda, perturbando o grande esforço da elite partidária em varrer o assunto para baixo do tapete.
Pereira já conquistou seu lugar no anedotário da política nacional ao aceitar um jipe (R$ 75 mil) próprio para andar na lama como presente de um prestador de serviços da Petrobras. Seus lamentos públicos podem ser um meio de reclamar mais atenção dos que o sucederam na direção do PT; queixa parecida não se ouve, por exemplo, de Delúbio Soares.
A intenção precípua de "Silvinho", como era carinhosamente chamado quando negociava com partidos aliados cargos na administração federal, também pode ser a de repisar uma conhecida linha de defesa, pessoal e coletiva. Na sua mais recente entrevista, ao jornal "O Globo", percebem-se fios da estratégia diversionista: afirma que os esquemas de financiamento ilegal não são exclusivos do PT e sobrevivem ao escândalo e que Marcos Valério atuava com autonomia, sem o controle do partido.
Para além de tentar adivinhar as motivações de Pereira, o fato é que seus desabafos trazem alguns elementos que clamam por investigação. Ele afirma que a versão exposta por Delúbio Soares e Marcos Valério -a de que tudo não passava de financiamento ilegal de campanhas originado em empréstimos bancários- foi previamente combinada entre ambos para evitar que a verdade viesse a "derrubar a República".
O ex-secretário-geral também diz que havia um grupo de empresas que financiavam o esquema criminoso de olho na obtenção de benefícios fraudulentos do Estado, mas não revela nomes nem detalhes "operacionais". São essas questões -importantes para elucidar aspectos nodais do mensalão- que Silvio Pereira precisa esclarecer na CPI dos Bingos, na audiência marcada para amanhã.


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