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ELIANE CANTANHÊDE
Inflação de chanceleres
BRASÍLIA - No início do primeiro
mandato de Lula, criticava-se a pulverização do comando da política
externa entre o chanceler de fato e
de direito, Celso Amorim, o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, velho consultor de Lula e
do PT para a área internacional.
Falou-se daqui, escreveu-se dali,
e as coisas foram se acomodando,
com Amorim ganhando desenvoltura, sobretudo nas negociações
econômicas, e Garcia fazendo mediações políticas principalmente na
América Latina, onde o PT mantém
vínculos históricos com partidos e
movimentos de esquerda. Quanto a
Samuel -acusado por uns e enaltecido por outros como o "anti-americanista" número um-, este voltou-se para dentro da casa.
Pois o repórter Ricardo Balthazar, do jornal "Valor Econômico",
comprovou, com documentos oficiais do governo norte-americano,
o que todo mundo suspeitava e o
Itamaraty temia: um quarto "chanceler", o então todo-poderoso José
Dirceu, fazia um pingue-pongue
entre Washington e Caracas.
Não bastasse, o segundo mandato
deu para Amorim dois outros
"chanceleres". Um é o ministro da
Defesa, Nelson Jobim, que cutuca
os EUA, defende Hugo Chávez, Evo
Morales e Rafael Corrêa e viaja por
toda a parte acertando o tal Conselho Interamericano de Defesa, que
o Itamaraty não sabe e não viu. E o
outro é o ministro do tudo e do nada
Mangabeira Unger, mergulhado
nos problemas da Amazônia, nas
leis trabalhistas e em negociações
"estratégicas" com Rússia, Venezuela e França.
Vida dura a do chanceler, mas a
vingança nem tarda nem falha: de
todos eles, quem mais tem viajado
com Lula é Amorim. Não só no circuito externo, mas nos comícios,
ops!, nos atos oficiais do presidente.
De duas, uma: ou Amorim sonha
ser candidato a alguma coisa, ou
Lula adora usá-lo como troféu de
área bem-sucedida no governo.
elianec@uol.com.br
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