São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Inflação de chanceleres

BRASÍLIA - No início do primeiro mandato de Lula, criticava-se a pulverização do comando da política externa entre o chanceler de fato e de direito, Celso Amorim, o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, velho consultor de Lula e do PT para a área internacional.
Falou-se daqui, escreveu-se dali, e as coisas foram se acomodando, com Amorim ganhando desenvoltura, sobretudo nas negociações econômicas, e Garcia fazendo mediações políticas principalmente na América Latina, onde o PT mantém vínculos históricos com partidos e movimentos de esquerda. Quanto a Samuel -acusado por uns e enaltecido por outros como o "anti-americanista" número um-, este voltou-se para dentro da casa.
Pois o repórter Ricardo Balthazar, do jornal "Valor Econômico", comprovou, com documentos oficiais do governo norte-americano, o que todo mundo suspeitava e o Itamaraty temia: um quarto "chanceler", o então todo-poderoso José Dirceu, fazia um pingue-pongue entre Washington e Caracas.
Não bastasse, o segundo mandato deu para Amorim dois outros "chanceleres". Um é o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que cutuca os EUA, defende Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Corrêa e viaja por toda a parte acertando o tal Conselho Interamericano de Defesa, que o Itamaraty não sabe e não viu. E o outro é o ministro do tudo e do nada Mangabeira Unger, mergulhado nos problemas da Amazônia, nas leis trabalhistas e em negociações "estratégicas" com Rússia, Venezuela e França.
Vida dura a do chanceler, mas a vingança nem tarda nem falha: de todos eles, quem mais tem viajado com Lula é Amorim. Não só no circuito externo, mas nos comícios, ops!, nos atos oficiais do presidente.
De duas, uma: ou Amorim sonha ser candidato a alguma coisa, ou Lula adora usá-lo como troféu de área bem-sucedida no governo.


elianec@uol.com.br

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