São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Primárias e silêncios

SÃO PAULO - O modelo norte-americano de primárias para definir candidatos pode ter um milhão de defeitos, mas, certamente, é o melhor ou, no mínimo, o menos ruim dos métodos até agora inventados, seja no mundo rico, seja entre os países em desenvolvimento. Como diz Lluís Bassets, colunista de "El País", "as primárias nos dizem que é possível contar com sistemas mais abertos, nos quais a indeterminação e os vai-e-vens não se traduzem em instabilidade política, mas em legitimidade".
É claro que Bassets deve estar pensando no sistema espanhol, que, apesar de ter uma participação mais ativa da militância, continua sendo basicamente uma questão restrita às cúpulas partidárias. No Brasil, então, nem se fala. Militância, primeiro, é pouca, e, segundo, é chamada mais para sacramentar decisões da cúpula do que para participar delas.
Até hoje, por exemplo, ninguém do PSDB se deu ao trabalho de explicar ao distinto público porque Geraldo Alckmin era, em 2006, melhor candidato à Presidência do que José Serra. Não estou dizendo que não o fosse ou que o fosse, não é problema meu. É que, no modelo de primárias, todo candidato a candidato é obrigado a prestar contas primeiro ao público interno (de seu partido) antes de apresentar-se ao conjunto do eleitorado.
Portanto, a regra do jogo é que ele diga porque é melhor que o outro (ou outros). Fazê-lo está no caderno de obrigações de qualquer pretendente, quase diria no DNA dele e do partido.
No Brasil, é palavrão até "bater chapa" (o jargão para disputa na convenção, o organismo ao qual cabe oficialmente definir candidatos), mesmo sabendo-se que a disputa convencional não implica necessariamente a maratona de prestação de contas que as primárias acabam sendo nos EUA.
É claro que o teor de democracia sai enriquecido.


crossi@uol.com.br

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