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Aloizio Mercadante
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Uma das pouquíssimas coisas boas da natureza humana
é que podemos escolher nossos heróis.
Não temos o direito de escolher nem
nossos parentes (pais, irmãos etc.)
nem nossos amigos. Estes aparecem e
desaparecem por circunstâncias que
não dominamos.
Com os nossos heróis é diferente. Escolhemos Ayrton Senna, cultuamos
Tiradentes, admiramos Leonardo, Michelangelo, Vieira, Machado, Beethoven -sem nada exigir em troca.
Penso nisso após ter visto na TV a
intervenção de Aloizio Mercadante na
CPI do sistema financeiro. O governo
articulou uma estratégia para derrubar seu depoimento. A mídia a favor
das bandalheiras nacionais engrossou
a onda, anunciando que ele traria
uma bomba.
Exigiram que o deputado desse nomes concretos, com endereço, filiação,
data de nascimento, CPF, tipo sanguíneo, título de eleitor. Ele não prometera nada disso. Falou institucionalmente sobre o grande ralo que suga
bilhões de todos nós, bilhões que poderiam repor aposentadorias, aparelhar
hospitais, abrir escolas.
A verdade é que ao governo nada
disso interessa. Desde que os operadores do viciado sistema financeiro estejam satisfeitos e dispostos a garantir o
poder de FHC, tudo bem. Se aparecer
um motorista ou um genro, providências serão tomadas para isolar o episódio. Nesse caso estão os dois bancos já
sabidos e talvez Chico Lopes.
Nem o escândalo nem o assalto ao
povo brasileiro incomodam o governo.
O argumento brandido é primário:
exigem provas com firma reconhecida.
A prova provada que Mercadante
apresentou, do vício no atacado, vício
que nem sempre aparece no varejo, foi
considerada ociosa, insuficiente.
A atuação dele foi um dos espetáculos mais bonitos de nossa vida pública. Ele próprio revelou que seu futuro
político ficou ameaçado pela obstinação com que está furando esse tumor
que nos adoece e envergonha. Fui me
olhar no espelho e por um momento
me senti redimido como homem.
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