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Petróleo e caviar...
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
Boa parte da Europa entrou em conflito por causa da pobre Albânia. O
que acontecerá quando os países belicosos tomarem consciência da espetacular descoberta de gigantescos poços
de petróleo no mar Cáspio? ("National Geographic Magazine", maio de
1999).
Vale a pena acompanhar essa história. Nos últimos anos da Cortina de
Ferro, a produção de petróleo estagnou do lado soviético. O desleixo com
os poços foi total. Em 1985 um deles
ficou abandonado em chamas por um
ano.
Agora, com a entrada de capitais externos, a produção petrolífera começa
a ser retomada. As coisas estão mudando para melhor. O campo de Tengiz (nordeste do mar Cáspio), por
exemplo, apresenta uma outra face.
Os poços estão bem-mantidos. Os
canteiros absolutamente limpos. Tudo funciona melhor. Nem parece que
fazem parte de uma União falida.
O principal poço de Tengiz tem
4.000 metros de profundidade. Descobriu-se nele um dos maiores depósitos
do mundo: 25 bilhões de barris!
Mas as notícias mais quentes se referem a outros campos petrolíferos,
também imensos, nas vizinhanças do
Cazaquistão, Azerbaijão e Turquistão,
tendo o Irã logo ao sul.
As estimativas apontam para um espantoso estoque de 250 bilhões de
barris, o que daria para abastecer o
mundo por dez anos!
Com a presença de capital e tecnologias estrangeiros, a produção atual da
região -que é de 1,1 milhão de barris
por dia (1,5% da produção mundial)- pode ser exponenciada. A
Chevron e outras empresas estrangeiras já se puseram a construir enormes
plataformas de exploração e oleodutos de transporte, na certeza de que a
exploração de petróleo na região vai
explodir.
As previsões indicam que, antes de
2010, os poços do mar Cáspio vão exportar, folgadamente, 2,5 milhões de
barris por dia -o total do que é produzido por todos os poços ingleses do
mar do Norte.
Num mundo em que a demanda de
energia é acelerada e crescente, dispor
de estoques assim generosos é uma
extraordinária vantagem comparativa.
Ao mesmo tempo, se persistir o secular desentendimento nas relações
de vizinhança entre o Cazaquistão, o
Azerbaijão e o Turquistão, de um lado, e o Irã, do outro, tamanha riqueza
será foco de forte inveja e perigosa
disputa.
As primeiras farpas já começaram a
ser distribuídas. As nações da ex-União Soviética já indicaram a sua preferência: querem ficar com o petróleo,
deixando para o Irã a exploração do
caviar -sabendo que as melhores espécies de esturjões (peixes produtores
de caviar) estão em extinção, enquanto as descobertas petrolíferas do mar
Cáspio não param de trazer boas notícias.
Para quem costuma brigar por pouco, esse é um convite para guerrear
por muito. E não se vai poder dizer
que será uma luta draconiana... Pois,
afinal, se para alguns fica o petróleo,
para outros fica o caviar...
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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