São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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Petróleo e caviar...

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Boa parte da Europa entrou em conflito por causa da pobre Albânia. O que acontecerá quando os países belicosos tomarem consciência da espetacular descoberta de gigantescos poços de petróleo no mar Cáspio? ("National Geographic Magazine", maio de 1999).
Vale a pena acompanhar essa história. Nos últimos anos da Cortina de Ferro, a produção de petróleo estagnou do lado soviético. O desleixo com os poços foi total. Em 1985 um deles ficou abandonado em chamas por um ano.
Agora, com a entrada de capitais externos, a produção petrolífera começa a ser retomada. As coisas estão mudando para melhor. O campo de Tengiz (nordeste do mar Cáspio), por exemplo, apresenta uma outra face. Os poços estão bem-mantidos. Os canteiros absolutamente limpos. Tudo funciona melhor. Nem parece que fazem parte de uma União falida.
O principal poço de Tengiz tem 4.000 metros de profundidade. Descobriu-se nele um dos maiores depósitos do mundo: 25 bilhões de barris!
Mas as notícias mais quentes se referem a outros campos petrolíferos, também imensos, nas vizinhanças do Cazaquistão, Azerbaijão e Turquistão, tendo o Irã logo ao sul.
As estimativas apontam para um espantoso estoque de 250 bilhões de barris, o que daria para abastecer o mundo por dez anos!
Com a presença de capital e tecnologias estrangeiros, a produção atual da região -que é de 1,1 milhão de barris por dia (1,5% da produção mundial)- pode ser exponenciada. A Chevron e outras empresas estrangeiras já se puseram a construir enormes plataformas de exploração e oleodutos de transporte, na certeza de que a exploração de petróleo na região vai explodir.
As previsões indicam que, antes de 2010, os poços do mar Cáspio vão exportar, folgadamente, 2,5 milhões de barris por dia -o total do que é produzido por todos os poços ingleses do mar do Norte.
Num mundo em que a demanda de energia é acelerada e crescente, dispor de estoques assim generosos é uma extraordinária vantagem comparativa.
Ao mesmo tempo, se persistir o secular desentendimento nas relações de vizinhança entre o Cazaquistão, o Azerbaijão e o Turquistão, de um lado, e o Irã, do outro, tamanha riqueza será foco de forte inveja e perigosa disputa.
As primeiras farpas já começaram a ser distribuídas. As nações da ex-União Soviética já indicaram a sua preferência: querem ficar com o petróleo, deixando para o Irã a exploração do caviar -sabendo que as melhores espécies de esturjões (peixes produtores de caviar) estão em extinção, enquanto as descobertas petrolíferas do mar Cáspio não param de trazer boas notícias.
Para quem costuma brigar por pouco, esse é um convite para guerrear por muito. E não se vai poder dizer que será uma luta draconiana... Pois, afinal, se para alguns fica o petróleo, para outros fica o caviar...


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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