São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O segundo

BRASÍLIA - Desde que voltei do exterior, não paro de ouvir críticas duras ao governo FHC e juras de ódio eterno ao candidato José Serra.
Isso vem de funcionários sem aumento há anos, de quem lê notícias sobre Ricardo Sérgio nos jornais ou de quem está em estado de choque com o confisco dos fundos "à la Collor" (como ouvi de uns e de outros).
O raciocínio é até simplório: FHC interveio na Previ para escamotear escândalos das privatizações e meteu a mão nos fundos para comprar os políticos e eleger Serra na marra.
Seus autores, porém, não são desprezíveis. Ao contrário, compõem essa massa meio disforme que a gente chama de "classe média", vai a comício na Candelária, instiga os "caras-pintadas" e muda eleições.
É fácil entender que Garotinho estacione em 16% e que Ciro Gomes desça de 14% para 11% no Datafolha de hoje. Mas não porque Lula cai de 43% para 40% e Serra se acomoda no segundo lugar, subindo de 17% para 21%. Aparentemente, o grosso do eleitorado não tem idéia de quem seja o tal Ricardo Sérgio, ainda não contabilizou as perdas em cifrões, ou melhor, nem aplica em fundos.
Além disso, a avaliação do governo melhorou (o "ótimo e bom" foi de 27% para 31%). A propaganda dos oito anos do Real surte seus efeitos subliminares contra Lula e a favor de Serra, adocicado pela Rita Camata.
O governo pode estar roto, esgarçado, nomeando até secretário de Arapiraca para ministério, mas ainda é governo. E o Brasil é o Brasil. A verdade nua e crua é que tudo continua indicando um duelo de segundo turno entre oposição e governo.
Garotinho é bom de gogó e fala direto às massas, Ciro tem uma presença televisiva marcante, mas eles disputam um espaço de oposição que é de Lula e ninguém tasca. Os dois vão ter de dar muita cotovelada para achar um lugar no segundo turno.
Serra não tem muito carisma, mas é candidato do governo, o que significa ser da elite, da mídia, dos investidores e empreendedores. E tem fama de ser bom nisso: na cotovelada.



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