São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A Coréia do Sul, além do futebol!

No fim de uma semana tumultuada no mercado financeiro, decidi olhar mais de perto o palco onde se realizam os jogos da seleção brasileira -a Coréia do Sul.
Aquele país foi atingido por uma catástrofe econômica em 1998 -quando o PIB caiu quase 7%. Em menos de quatro anos, com 48 milhões de habitantes e apenas 19% de terras cultiváveis, a Coréia do Sul recuperou-se.
Os números são impressionantes. Entre 1999 e 2001, o país atraiu US$ 52 bilhões em investimentos estrangeiros. As reservas superaram os US$ 100 bilhões. No primeiro semestre de 2002, a economia cresceu 5,7%. Neste ano, o PIB ultrapassará os US$ 800 bilhões, as exportações, os US$ 200 bilhões, e as importações, os US$ 160 bilhões. Que belo saldo! A taxa de desemprego é de apenas 3%. O salário real é crescente. A mortalidade infantil é de apenas 7 por 1.000.
Milagre? Não. A Coréia do Sul possui o mais precioso capital dos tempos modernos: uma população bem-educada e suficientemente competente para absorver e criar inovações nos campos da tecnologia, da produção, das vendas etc. Os coreanos trabalham intensamente. Descansam cem dias por ano (férias, feriados e domingos), contra 139 no Japão e 145 na França. A taxa de analfabetismo é de 2%. A força de trabalho tem, em média, dez anos de boa escola.
Trabalho e educação foram a mola mestra da recuperação da Coréia do Sul. Além disso, o país empreendeu reformas profundas. Rompeu-se a simbiose que existia entre o Estado, os bancos e os grandes conglomerados de empresas ("chaebol"), na maioria ineficientes. Com isso, os bancos passaram a financiar os pequenos e os médios produtores -talentosos e criativos. Hoje, cerca de 70% das exportações coreanas são feitas por essas empresas.
Os consumidores também se beneficiaram do crédito a juros baixos. A irrigação creditícia fez crescerem a produção, a exportação, os empregos, a renda e o consumo -o que impulsionou a economia.
A Coréia do Sul está em pé novamente. E, como vemos pela televisão, o país está decidido a ser forte no esporte, no lazer e na cultura. Apesar de alguns pequenos problemas de organização, os coreanos deram um belíssimo show de coreografia, tecnologia e humanismo na abertura da Copa do Mundo. A presença das crianças não só na abertura como na entrada dos vários times dá uma lição de vida aos adultos que cultivam guerras, conflitos e arrogância. As crianças simbolizam a pureza do presente e a esperança do futuro. É delas que todos os povos dependem. Gostei muito desse lado humano do campeonato em curso.
E o que dizer do juiz coreano no jogo do Brasil com a Turquia? Teria ele arranjado um pênalti para o Brasil? Pessoalmente, vi ali um caso irrecuperável de grave miopia...
Deixemos esse assunto para depois. Que bom se o Brasil viesse a educar seu povo para que os pequenos e médios produtores pudessem impulsionar nossas vendas externas, que hoje representam apenas 0,8% das exportações do planeta. Seria o início de uma nova era, com sólidas esperanças e sonhos realizáveis.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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