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MARTA SALOMON
Os donos do poder
BRASÍLIA - Basta fazer as contas. Os R$ 35 bilhões que a União deixará de
arrecadar neste ano por conta dos incentivos fiscais seriam mais do que
suficientes para bancar os 10 milhões
de empregos prometidos na campanha por Luiz Inácio Lula da Silva.
Pagando aos trabalhadores o salário mínimo e contando com o adicional de férias, sobraria dinheiro.
Os incentivos são garantidos por
um emaranhado de leis, há até decretos-leis da época do regime militar.
Mais do que os trabalhadores com
baixos salários ou a classe média (via
deduções de despesas médicas e com
instrução no Imposto de Renda), beneficiar-se-iam de renúncias fiscais a
indústria e o comércio.
A tradição ensina, porém, que é
muito mais fácil aumentar impostos
que mexer nos incentivos fiscais. Por
mais estranho que isso soe à lógica.
Como há mais contribuintes que
pagam impostos do que aqueles que
deixam de fazê-lo por meio das renúncias fiscais, a defesa dos interesses
desses últimos é mais concentrada e
mais forte politicamente, explica o
ex-ministro e consultor Antonio
Kandir, que lidou anos com temas
tributários no Congresso.
Não se propõe aqui que a equipe de
Lula transforme incentivos em salários. A conta lá de cima é para ajudar
num raciocínio: o Brasil tem uma Lei
de Responsabilidade Fiscal considerada moderníssima para disciplinar
os gastos públicos (e economizar para
o pagamento de juros), mas nada tão
moderno para tratar do dinheiro que
o Estado deixa de arrecadar.
Faltam limites para os incentivos
fiscais e um mecanismo para checar
periodicamente a sua eficácia, uma
mínima prestação de contas.
Não se espera que a equipe de Lula
resolva de uma hora para outra um
dos grandes tabus brasileiros, herança -dizem- de um passado bem
antigo, do tempo das caravelas. Mas
dá para começar pelo que o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse, na edição de ontem na Folha, que
faria: avaliar os resultados dos incentivos. A conferir.
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