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CONTINENTE INSTÁVEL
O que mais importa na crise
boliviana não é saber se o Congresso boliviano vai aprovar o pedido
de renúncia do presidente Carlos
Mesa. Tampouco se o presidente do
Senado, Hormando Vaca Díez
-uma das figuras mais impopulares da Bolívia- vai assumir o cargo
até o fim do mandato, que se estende
por mais dois anos, ou se ele e os demais substitutos constitucionais
também renunciarão até que o presidente da Suprema Corte chegue ao
posto e convoque novas eleições.
Nada disso muda o fato essencial
de que a Bolívia se mostra cada vez
mais ingovernável. Não será uma
eleição para definir um presidente
até 2007, nem a convocação de uma
assembléia constituinte que mudarão esse quadro no curto prazo.
Grupos de indígenas e de sindicalistas, liderados por Evo Morales, do
MAS (Movimento ao Socialismo),
exigem a nacionalização do petróleo
e do gás -uma medida que pode
afugentar investidores e deixar o setor descapitalizado. Já representantes das regiões mais industrializadas
e daquelas onde o petróleo é abundante querem mais autonomia para
suas províncias.
Num país assim dividido, é difícil
que alguma liderança conquiste
mais de 50% dos sufrágios necessários para assumir a Presidência pelo
voto popular. A disputa é decidida
então no Congresso, e a tendência é
que surja alguém sem grande representatividade e força política. Nessas
condições, a crise permanece.
E a Bolívia não deixa de ser uma espécie de microcosmo da América Latina, que ora recorre a soluções populistas, ora ao receituário liberal. As
primeiras já produziram desastres,
como o processo hiperinflacionário
dos anos 80. O segundo, embora tenha contribuído para estancar a escalada de preços, mostrou-se pouco
eficaz para reduzir a pobreza ou oferecer respostas aos grandes desafios
sociais. O resultado é um acúmulo
de frustrações que se traduz em
preocupante instabilidade política.
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