São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2005

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CONTINENTE INSTÁVEL

O que mais importa na crise boliviana não é saber se o Congresso boliviano vai aprovar o pedido de renúncia do presidente Carlos Mesa. Tampouco se o presidente do Senado, Hormando Vaca Díez -uma das figuras mais impopulares da Bolívia- vai assumir o cargo até o fim do mandato, que se estende por mais dois anos, ou se ele e os demais substitutos constitucionais também renunciarão até que o presidente da Suprema Corte chegue ao posto e convoque novas eleições.
Nada disso muda o fato essencial de que a Bolívia se mostra cada vez mais ingovernável. Não será uma eleição para definir um presidente até 2007, nem a convocação de uma assembléia constituinte que mudarão esse quadro no curto prazo.
Grupos de indígenas e de sindicalistas, liderados por Evo Morales, do MAS (Movimento ao Socialismo), exigem a nacionalização do petróleo e do gás -uma medida que pode afugentar investidores e deixar o setor descapitalizado. Já representantes das regiões mais industrializadas e daquelas onde o petróleo é abundante querem mais autonomia para suas províncias.
Num país assim dividido, é difícil que alguma liderança conquiste mais de 50% dos sufrágios necessários para assumir a Presidência pelo voto popular. A disputa é decidida então no Congresso, e a tendência é que surja alguém sem grande representatividade e força política. Nessas condições, a crise permanece.
E a Bolívia não deixa de ser uma espécie de microcosmo da América Latina, que ora recorre a soluções populistas, ora ao receituário liberal. As primeiras já produziram desastres, como o processo hiperinflacionário dos anos 80. O segundo, embora tenha contribuído para estancar a escalada de preços, mostrou-se pouco eficaz para reduzir a pobreza ou oferecer respostas aos grandes desafios sociais. O resultado é um acúmulo de frustrações que se traduz em preocupante instabilidade política.


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