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RUY CASTRO
Coisa nossa
RIO DE JANEIRO - É rara a semana em que alguém não me pergunte
de onde saiu a expressão bossa nova. Parece uma preocupação nacional. Para não complicar, explico que
saiu da língua portuguesa, mesmo.
As palavras bossa e nova sempre
existiram, cada qual no seu canto.
Um dia, alguém as acoplou para significar algo diferente, original. E,
em fins dos anos 50, elas foram aplicadas a uma música que se começava a fazer no Rio, por João Gilberto,
Tom Jobim e outros. É isso aí.
Ou não -porque não se consegue
dar os nomes aos bois. O próprio
uso de "bossa nova", referindo-se
ao gênero musical, é incerto. Fala-se de uma secretária anônima do
Grupo Universitário Hebraico, no
Flamengo, que em 1958 teria pintado uma tabuleta anunciando um
show: "Hoje. Sylvia Telles e um grupo bossa nova". Ou seja, um grupo
diferente, "bossa nova" -não "de
bossa nova". A partir dali é que a expressão definiria aquele jeito de tocar e cantar.
Se antes disso entendia-se por
"bossa nova" apenas uma coisa diferente, quem teria inaugurado a
expressão? O melhor suspeito é o
violonista Zezinho, futuro Zé Carioca, que, em 1939, nos EUA, assim
chamava tudo o que lhe parecia novidade. Ao ver as lâmpadas de mercúrio em Nova York, por exemplo:
"Olha lá! Iluminação bossa nova!".
Ou seja, a bossa vem de longe.
Mas de quão longe? Um exemplo
remoto é a frase de Carmen Miranda para o compositor e médico Joubert de Carvalho, quando este lhe
foi ensinar a marchinha "Taí", em
janeiro de 1930: "Pode deixar, doutor, que, na hora da bossa, eu entro
com a boçalidade".
Mas bossa vem de ainda mais longe. Descobri-a no capítulo 13, tomo
1, de "Memórias de um Sargento de
Milícias", de Manuel Antonio de Almeida, que é de 1852 -e com o mesmo sentido de hoje. Coisa nossa, diria o infalível Noel.
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