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FERNANDO RODRIGUES
Renan, a parte e o todo
BRASÍLIA - É possível haver explicação formal sobre a origem do
dinheiro de Renan Calheiros. Notas
fiscais, recibos, cheques, saques em
espécie e gado valorizado. Como se
sabe, aqui é o Brasil.
Sobre o gado, um reparo. Escrevi
segunda-feira sobre o tema. O presidente do Senado faturou R$ 1,92
milhão com a venda de "bovinos e
bubalinos" de 2003 a 2006. O número declarado de bois vendidos
nos quatro anos foi de 1.902.
Em resumo, um boi criado por
Renan Calheiros rende, em média,
R$ 1.009. Não é impossível obter tal
preço. Mas devem ser animais realmente excepcionais. Opulentos e
de carne inigualável. Tudo compatível com uma tradição até hoje desconhecida de Alagoas. Essa discussão, porém, só favorece ao atormentado presidente do Senado.
O debate sobre o "gado do Renan"
pode se arrastar por semanas sem
conclusão. É uma parte considerável do problema, não o seu todo.
Talvez pelo padrão rebaixado dos
níveis éticos da política, outro aspecto da encrenca já evaporou.
Trata-se de uma confissão de Renan Calheiros. O ocupante do quarto cargo na hierarquia da República, sentado em sua cadeira na Presidência do Senado, revelou ter utilizado os serviços de um amigo lobista para transportar dinheiro vivo.
Desculpou-se pelo fato de os pagamentos terem sido de caráter pessoal -a pensão para uma mulher
com quem tivera uma filha.
A pergunta é: pode um senador
da República dar-se ao luxo de pedir tal auxílio a um lobista? Mesmo
o dinheiro sendo de Renan Calheiros -algo não-comprovado-, a impropriedade da relação é gritante.
Há uma leniência tácita dos senadores a respeito. O caráter pessoal
do Renangate é usado como atenuante. O viés é pela absolvição. A
mensagem está pronta: no Senado,
pedir a amigos lobistas que transportem dinheiro é normal e lícito.
Eles sabem as relações que têm.
frodriguesbsb@uol.com.br
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