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Mudança?
Crise questiona capacidade ilimitada de gastar e contrair dívida, que caracterizou os EUA nas últimas décadas
HÁ QUASE 30 anos, desde a crise que associou
o segundo choque do
petróleo à alta da inflação mundial, não se via um
questionamento tão forte da hegemonia do dólar e dos Estados
Unidos na economia mundial.
Não foi por outro motivo que
uma fala do presidente do Banco
Central Europeu, ameaçando
elevar os juros para combater a
alta dos preços, ajudou a produzir uma intensa fuga do dólar na
sexta-feira passada. Investidores
assustados também com a notícia de aumento do desemprego
nos EUA derrubaram as Bolsas,
as americanas com especial virulência, e buscaram refúgio em
outras moedas e nos contratos
de petróleo, cujo preço disparou
e roçou os US$ 140 o barril.
Como no final da década de
1970, estão de volta os fantasmas
da inflação e do choque no custo
da energia. A este respeito -lembrando os embates políticos com
o cartel da Opep no passado- foi
quase dramático o comunicado
de ministros de Energia do G8,
reunidos ontem no Japão, que
exigiu dos países exportadores
de petróleo que invistam mais na
ampliação da oferta e aumentem
a transparência dos dados acerca
dos níveis atuais de produção.
Mas a crise encontra agora a
economia americana bastante
fragilizada, imersa numa ressaca
de desconfiança após anos de
crédito farto e barato. Além disso, como o consumo desabrido
das famílias e do governo americano veio sendo financiado com
capital estrangeiro, a saúde financeira dos EUA depende hoje,
muito mais que no passado, de
seus parceiros comerciais. Mais
da metade da dívida pública
americana já está em mãos de estrangeiros -contra pouco mais
de um terço no início da década.
Esses elementos, se ainda estão longe de representar a ruína
da posição central dos EUA na
economia mundial, exercida
desde o final da Segunda Guerra,
representam um desafio diferente, e muito mais pedregoso,
para a condução da política econômica. Na retórica dos dois
candidatos à Casa Branca, não há
nenhum sinal de que tenham
percebido mudança nos ventos.
O democrata Barack Obama
quer endurecer a relação com
grandes parceiros comerciais
dos EUA, indispensáveis para o
equilíbrio financeiro da maior
economia mundial. Mira a China, e também fala em rever o
Nafta -o bloco de livre comércio
formado com o Canadá e o México. O republicano John McCain
insiste na estratégia de Bush de
diminuir tributos, sem se importar em como financiar o crescente déficit fiscal daí resultante.
O fato é que a situação privilegiada dos Estados Unidos não os
tem obrigado a gerir seu orçamento público da maneira como
os demais países o fazem -constrangidos por limitações macroeconômicas bastante claras.
A confiança mundial no dólar
chancelou políticas econômicas,
como a do presidente Bush, populistas e irresponsáveis, se avaliadas nos termos da ortodoxia.
Chegou a hora da mudança?
Em caso positivo, ela parece ter
pego os dois postulantes à Presidência dos EUA desprevenidos.
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