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MARINA SILVA
Em legítima defesa
INICIO MINHA participação neste espaço com enorme sentido
de responsabilidade. Tenho a
oportunidade diferenciada de usar
um dos bens culturais mais preciosos: a exposição de idéias, base para
o diálogo. Gostaria de compartilhá-la com os leitores e de, juntos, pensarmos o Brasil e reunirmos forças para ajudar a transformá-lo.
Para começo de conversa, trato
de um entrave para o crescimento
do país: a postura ambígua do Estado frente ao nosso incomparável
patrimônio natural.
O Estado brasileiro criou medidas de proteção ambiental, muitas
vezes em situações difíceis. Esse
acúmulo alcança hoje limiar estratégico de inserção da variável ambiental no coração do processo de
desenvolvimento. A sociedade entende esse momento, apóia, demanda. Diante disso, o Estado não
pode se encolher diante do ponto a
que ele mesmo chegou.
Movimentos retrógrados, saudosistas do tempo da terra sem lei,
fazem pressões e recebem acenos
de possíveis flexibilizações. Mas a
sociedade bloqueia e restringe esses acordos. A Amazônia é o maior
exemplo. A opinião pública mantém o debate, banca o combate ao
desmatamento, dá suporte para a
manutenção da lei do licenciamento e para a não-flexibilização da legislação ambiental.
O certo é que o Estado, em todos
os seus níveis, não consegue utilizar o grande capital político de que
dispõe para acompanhar o pique
da sociedade. Ela cresceu, passou a
perceber seus problemas de maneira mais complexa. O Estado
cresceu, mas não amadureceu.
Há agora uma discussão importante que resume tudo: é preciso
dinheiro para implementar as medidas e normas criadas, porém a relatoria ambiental do Orçamento
que está sendo discutido no Congresso foi entregue à bancada ruralista, cuja oposição às medidas de
combate ao desmatamento é conhecida. Talvez tenha havido uma
negociação para assegurar aos aliados a relatoria das agendas de aceleração do crescimento. E o meio
ambiente parece não ter tido a
mesma prioridade.
Boa parte do Estado ainda vê na
política ambiental um mal necessário. Fala-se em compatibilizar
desenvolvimento e meio ambiente,
como se fossem adversários a serem conciliados. O Brasil não tem
que compatibilizar, tem que buscar
um crescimento econômico cuja
concepção já contenha a conservação ambiental. Que não veja as
áreas preservadas como partes "retiradas da produção" e, sim, como
imprescindíveis à produção equilibrada e com alguma noção de bem
público. Isso é possível? Se não for,
para um país que ainda tem 60% do
seu território com florestas, então
é mesmo hora de aumentamos, em
legítima defesa, nosso estado de
alerta.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve nesta coluna às segundas-feiras.
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