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RUY CASTRO
Tapando o nariz
RIO DE JANEIRO - No tempo do
"milagre", nos anos 70, o ditador
Garrastazu Médici, falando à imprensa estrangeira, escorregou e
disse uma frase que ficaria célebre:
"O Brasil vai bem, mas o povo vai
mal". Sem querer, admitia que os
índices de crescimento do país, tidos como espetaculares, não se refletiam nas condições de vida diária
do brasileiro, que continuava roendo beira de penico.
Hoje é o contrário. O brasileiro
vive um inédito carnaval consumista. Há dinheiro e crédito para tudo:
casa própria, carro blindado, TV de
plasma, notebook, iPod, depilação a
laser, tomate seco, mozarela de búfala, Viagra, Prozac, Lexotan. Qualquer colchete ou retrós pode ser pago em seis vezes -já vi gente comprando um jornal em Congonhas
(R$ 2,50) e pagando com cartão de
crédito. Todos os índices falam do
aumento do poder de fogo do brasileiro diante de um rack, gôndola ou
prateleira.
Já o Brasil cambaleia e aderna em
outros índices. A Amazônia precisa
ser protegida da cobiça dos gringos
para continuar sendo derrubada
por nós mesmos, à razão de sete
campos de futebol por minuto. Instauram-se incontáveis CPIs, apenas para vê-las arquivadas em menos de um ano, para que um ex-governo não possa puxar o rabo do
atual e vice-versa. Desmascara-se
um chefe de quadrilha e descobre-se que ele era o mesmo chefe da polícia, e que o chefe de ambos era o
próprio chefe do governo.
Todo dia vazam denúncias de armações, maracutaias, tráfico de influência, desvio de recursos públicos e compra pura e simples de governos, envolvendo multinacionais, ONGs e todos os níveis de administração -denúncias essas que
só têm como resposta a arrogância
ou o cinismo.
Os intestinos da maioria das instituições fedem. O povo tapa o nariz
e vai às compras.
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