São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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MAURO PAULINO

Fotograma

A rodada de pesquisas nacionais divulgadas nesse final de semana marca o encerramento da primeira fase do processo eleitoral, iniciada precocemente no final do ano passado, e o início de uma segunda etapa que irá durar até 20 de agosto, quando estréia o horário eleitoral gratuito reservado aos partidos no rádio e televisão.
Os últimos resultados ilustram o que ocorreu de forma frequente e padronizada nesse primeiro momento da eleição: mudanças bruscas no cenário logo após a superexposição de cada candidato na TV. Esse fenômeno, inédito em eleições presidenciais no Brasil, é consequência direta da profissionalização do marketing político e do desinteresse do eleitorado, que ainda está longe de ter o voto decidido.
O lançamento e a posterior queda da candidatura Roseana, com ampla utilização do espaço televisivo, foram emblemáticos como exemplo desse processo. Alavancada pela superexposição na mídia, incluindo o uso indevido de pesquisas programadas em datas estratégicas, seguidas de extensa divulgação, terminou sofrendo a derrocada em consequência da superexposição negativa e da imagem mais marcante da eleição até aqui: o dinheiro da Lunus exibido na mesa da Polícia Federal.
Os candidatos que permaneceram apresentaram movimentos de ascensão semelhantes após as aparições na TV e não sofreram ataques com contundência que os inviabilizassem.
Pode-se dizer que, até aqui, as candidaturas estavam assumindo suas posições para iniciar a disputa. A pesquisa do Datafolha mostra a colocação de cada um na última sexta-feira, quando foi realizada a maior parte do campo. Os resultados refletem o patrimônio acumulado até então pelos candidatos, que é formado, entre tantos fatores, pelo recall de campanhas anteriores, pelo posicionamento em relação aos problemas mais palpitantes do país -encabeçados pelo desemprego e pela segurança pública-, pela empatia com o eleitorado -graças ao apelo emocional a ele dirigido- e pela imagem pessoal derivada das aparições na mídia.
A partir de agora, candidaturas e eleitores em suas posições, começa a fase de apresentação dos personagens principais marcada pelas entrevistas no telejornal de maior audiência do país, atitude que será replicada em todas as emissoras em horário nobre. Estas constituirão outra importante novidade nesta eleição, pois, além do alcance significativo, mostrarão os candidatos despidos dos efeitos de marketing.
Com isso as taxas apresentadas nas últimas pesquisas começam a defasar-se e passa a crescer a expectativa em relação aos levantamentos a serem realizados nas próximas semanas. Os efeitos ilógicos provocados no mercado financeiro pelos resultados efêmeros das pesquisas deverão repetir-se até o final das eleições. Os especuladores, agora armados em larga escala com pesquisas próprias ou promovendo festivais de boatos logo após o registro obrigatório de levantamentos nacionais no TSE, continuarão provocando histeria ao se aproveitarem da fragilidade do mercado financeiro.
Isso aumenta a responsabilidade dos institutos que se propõem a divulgar pesquisas eleitorais. Mais do que nunca ficam obrigados os que as produzem, assim como os que divulgam os números, a tratá-las com responsabilidade social. Transparência e divulgação dos resultados com clareza e rapidez são armas importantes contra a especulação irresponsável e favorecem um processo eleitoral saudável.


Mauro Francisco Paulino é diretor-geral do Datafolha. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Roberto Mangabeira Unger, que escreve às terças-feiras nesta coluna.



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