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MAURO PAULINO
Fotograma
A rodada de pesquisas nacionais
divulgadas nesse final de semana
marca o encerramento da primeira fase do processo eleitoral, iniciada precocemente no final do ano passado, e
o início de uma segunda etapa que irá
durar até 20 de agosto, quando estréia
o horário eleitoral gratuito reservado
aos partidos no rádio e televisão.
Os últimos resultados ilustram o que
ocorreu de forma frequente e padronizada nesse primeiro momento da
eleição: mudanças bruscas no cenário
logo após a superexposição de cada
candidato na TV. Esse fenômeno, inédito em eleições presidenciais no Brasil, é consequência direta da profissionalização do marketing político e do
desinteresse do eleitorado, que ainda
está longe de ter o voto decidido.
O lançamento e a posterior queda da
candidatura Roseana, com ampla utilização do espaço televisivo, foram
emblemáticos como exemplo desse
processo. Alavancada pela superexposição na mídia, incluindo o uso indevido de pesquisas programadas em
datas estratégicas, seguidas de extensa
divulgação, terminou sofrendo a derrocada em consequência da superexposição negativa e da imagem mais
marcante da eleição até aqui: o dinheiro da Lunus exibido na mesa da Polícia Federal.
Os candidatos que permaneceram
apresentaram movimentos de ascensão semelhantes após as aparições na
TV e não sofreram ataques com contundência que os inviabilizassem.
Pode-se dizer que, até aqui, as candidaturas estavam assumindo suas posições para iniciar a disputa. A pesquisa do Datafolha mostra a colocação de
cada um na última sexta-feira, quando
foi realizada a maior parte do campo.
Os resultados refletem o patrimônio
acumulado até então pelos candidatos, que é formado, entre tantos fatores, pelo recall de campanhas anteriores, pelo posicionamento em relação
aos problemas mais palpitantes do
país -encabeçados pelo desemprego
e pela segurança pública-, pela empatia com o eleitorado -graças ao
apelo emocional a ele dirigido- e pela imagem pessoal derivada das aparições na mídia.
A partir de agora, candidaturas e
eleitores em suas posições, começa a
fase de apresentação dos personagens
principais marcada pelas entrevistas
no telejornal de maior audiência do
país, atitude que será replicada em todas as emissoras em horário nobre.
Estas constituirão outra importante
novidade nesta eleição, pois, além do
alcance significativo, mostrarão os
candidatos despidos dos efeitos de
marketing.
Com isso as taxas apresentadas nas
últimas pesquisas começam a defasar-se e passa a crescer a expectativa em
relação aos levantamentos a serem
realizados nas próximas semanas. Os
efeitos ilógicos provocados no mercado financeiro pelos resultados efêmeros das pesquisas deverão repetir-se
até o final das eleições. Os especuladores, agora armados em larga escala
com pesquisas próprias ou promovendo festivais de boatos logo após o
registro obrigatório de levantamentos
nacionais no TSE, continuarão provocando histeria ao se aproveitarem da
fragilidade do mercado financeiro.
Isso aumenta a responsabilidade
dos institutos que se propõem a divulgar pesquisas eleitorais. Mais do que
nunca ficam obrigados os que as produzem, assim como os que divulgam
os números, a tratá-las com responsabilidade social. Transparência e divulgação dos resultados com clareza e rapidez são armas importantes contra a
especulação irresponsável e favorecem um processo eleitoral saudável.
Mauro Francisco Paulino é diretor-geral do Datafolha. Hoje, excepcionalmente, não é publicado
o artigo de Roberto Mangabeira Unger, que escreve às terças-feiras nesta coluna.
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