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CARLOS HEITOR CONY
Comidas eleitorais
RIO DE JANEIRO - Uma das coisas que me distraem durante as campanhas eleitorais é tomar conhecimento
pelos jornais e TVs das comidas, petiscos e acepipes vários que os candidatos são obrigados a ingerir, metade
por cortesia, metade por cálculo.
Nunca fui candidato nem nunca
tomei parte em campanha alguma,
mas sei como as coisas se passam. Os
condenados ao triunfo são obrigados
a digerir coisas estranhas, ao sabor de
circunstâncias imprevisíveis. FHC
encarou uma buchada de bode e Juscelino, certa vez, chegou a uma cidadezinha e a mulher do prefeito ofereceu-lhe uma pasta amarelada, exigindo que o candidato provasse e
adivinhasse o que era. JK provou,
mas não adivinhou: disse que eram
ovos mexidos, mas a mulher do prefeito garantiu que eram miolos de
búfalo com açafrão.
Juarez Távora, precavido, levava
com ele um kit de sobrevivência, uma
galinha cozida na água e sal -ele sofria do estômago e se obrigava à dieta
rígida e cadavérica.
Mas a peça de resistência de uma
campanha que se preza é, desde remotos tempos, a maionese fatal,
abundante, inacabável. Antes dela,
houve a fase do macarrão com sardinha em lata, mas, não se sabe por
que, foi desbancado pela maionese,
que tem foros mais sofisticados e o
mesmo teor entupitivo.
Vejo agora os candidatos presidenciáveis comendo pastéis de queijo,
com ou sem o caldo de cana que geralmente acompanha tal petisco popular, do qual, aliás, sou entusiasta
antigo e jamais saciado.
Jânio Quadros atribuía o sucesso de
suas campanhas não às idéias e planos que defendia, mas ao fato de que
comia tudo o que lhe era oferecido,
pedia mais e fazia uma espécie de
quentinha para comer pelo caminho.
Na primeira curva da estrada, jogava
a quentinha fora, mas ganhava os
votos de comunidades inteiras.
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