São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2007

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O despertar do gigante

RICARDO KNOEPFELMACHER


Priorizar a educação, por isso mesmo, implica o uso intensivo da tecnologia. Muitas nações estão se modernizando assim


O GIGANTE adormecido despertou. A educação no Brasil passou a ser olhada como prioridade. Hoje, a sociedade está mobilizada pelo compromisso com a educação. Conta com a participação do governo, dos empresários, de lideranças políticas e sociais. Mas ainda é necessário envolver nessa grande cruzada a maioria dos cidadãos.
Por séculos, o Brasil embalou o sonho do "país do futuro", tão bem descrito pelo filósofo e escritor austríaco Stefan Zweig, que aqui viveu no século passado. Seu relato mostra a exuberância e a opulência de uma nação que possuía tudo de que necessitava.
Todavia, o que era virtude tornou-se problema. O gigante deixou-se acorrentar a pés de barro, dividido entre a volúpia das riquezas naturais e os grilhões da ignorância.
Mas Deus, dizem, nasceu aqui. O Brasil vive mais uma vez um momento ímpar para mudar sua trajetória rumo ao desenvolvimento, à redução das desigualdades e ao atendimento das demandas sociais.
Desde 2005, quando nasceu o movimento conhecido como Compromisso Todos pela Educação, uma iniciativa que uniu a sociedade civil, o setor privado e os gestores públicos, o país começou uma revolução: atribuiu status à educação, tornando-a prioridade, incluída, enfim, na agenda nacional.
O Compromisso Todos pela Educação, capitaneado pelo empresário Jorge Gerdau, nasceu com a missão de democratizar o acesso à educação para todas as crianças e jovens. O movimento, incorporado pelo governo federal, prevê que toda criança de sete a 14 anos esteja na escola; que toda criança de oito anos saiba ler e escrever; que todo aluno aprenda o que é apropriado para a sua série; que todo aluno conclua o ensino fundamental e o médio e que o investimento em educação básica no país seja, no mínimo, equivalente a 5% do Produto Interno Bruto.
Pode-se assegurar sem erro que metade desse dever de casa foi realizado nos últimos anos: 94% das crianças em idade escolar estão matriculadas na primeira série, segundo pesquisa do IBGE de 2005. O resultado final do Censo Escolar de 2006 do Ministério da Educação informa que 55,9 milhões de pessoas estão matriculadas nas diferentes etapas e modalidades de ensino da educação básica.
O mais difícil, portanto, já está feito. Não obstante as conquistas, o desafio agora é fazer a outra metade, como assinala a empresária Viviane Senna.
É preciso realizar tudo isso com qualidade. Essa é a questão. As crianças e jovens conseguem chegar à escola, mas saem de lá sem saber o que tinham de saber. Outros desistem pelo caminho. São marginalizados. Resta-lhes a convivência com a violência e o crime.
É preciso assegurar a permanência de nossas crianças e jovens na escola, rompendo os laços com a ignorância e o atraso. O que se busca é o sistemático investimento na qualidade do nosso capital humano e, sobretudo, formar cidadãos.
O bom funcionamento de uma escola requer infra-estrutura adequada, boas instalações, bibliotecas, computadores e, principalmente, professores bem preparados e bons gestores na direção. É aí que o setor de telecomunicações pode fazer a diferença. A internet é o pilar central da sociedade da informação, e a telecomunicação, uma ferramenta indispensável para formar e treinar o capital humano.
Priorizar a educação, por isso mesmo, implica o uso intensivo da tecnologia. Muitas nações estão se modernizando assim. Transformam suas economias e aumentam o bem-estar de suas populações. É o caso do Chile, da Coréia e até de países desenvolvidos, como o Reino Unido, que se apóiam na tecnologia da informação para promover o desenvolvimento.
Essa deve ser também a nossa opção. A infra-estrutura brasileira em telecomunicações é das melhores do mundo. O setor investiu nos últimos oito anos mais de R$ 160 bilhões. Interligou o país e universalizou a telefonia, hoje presente nos mais longínquos rincões. Na internet, o Brasil é líder da América do Sul. É isso que enseja a possibilidade de promover a grande revolução na educação em um país continental como o nosso.
Esse é o roteiro para a construção do novo Brasil e para encurtar a distância entre o presente e o futuro. Estamos certos de que investir em educação com o apoio das telecomunicações pode transformar mais rapidamente o gigante de pés de barro numa nação que orgulhe os seus cidadãos, com mais justiça social, menos violência e mais oportunidades.

RICARDO KNOEPFELMACHER , 41, economista com graduação em gestão internacional pela Universidade de Thunderbird (EUA), é presidente da Brasil Telecom.

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