São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

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RUY CASTRO

Costumes caducos

RIO DE JANEIRO - Uma das vantagens de passar uns tempos fora do país é descobrir como certos costumes, que há muito julgávamos caducos ou extintos, sobrevivem em outras plagas. A Europa, por exemplo.
Há cidades em que os aviões ainda chegam e saem na hora e em que as empresas vendem as passagens de acordo com o número de poltronas. Em que o trânsito roda com razoável fluência, apesar da ausência de garagens em prédios do século 17 ou 18. Onde as pessoas não andam pelas ruas penduradas ao celular e em que, aliás, vê-se pouca gente falando ao celular em público.
Onde as farmácias são raras e discretas, anunciando-se apenas por aquela acolhedora cruz verde em néon, e não por luminosos estilo Las Vegas. Onde um "M" amarelo numa esquina significa um buraco do metrô nas proximidades, e não uma ratoeira do McDonald's. Onde o açúcar impera até hoje nas mesas dos restaurantes -adoçante, só a pedidos- e o sal continua a ser servido em saleiros, daqueles com furos, e não nesses pacotinhos que derramam sal demais ou de menos.
Onde as pessoas ainda fumam em massa e sem culpa, embora a lei que as obriga a ir fumar na rua ameace provocar um entupimento terminal nos esgotos, com as torrentes de guimbas que os bueiros passaram a engolir. Onde quase não se vêem mulheres bombadas e, quando um par de 500 ml de silicone se aproxima, não paga dez -são de alguma brasileira. Em que a moda do baby-doll em forma de bombacha por enquanto não chegou. E em que as crianças ainda se vestem como crianças, e pulam corda, brincam de roda ou jogam amarelinha nas praças, em vez de andarem grudadas a um jogo eletrônico.
Enfim, são cenas que eu próprio já associava a um passado perdido, a uma remota nostalgia - algo assim como os bons velhos tempos de 1998, 1999, por aí.


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