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MELCHIADES FILHO
Haverá sangue
BRASÍLIA - Enquanto a imprensa
leva o assunto em banho-maria, escaldada pelo fiasco de comunicados
festivos anteriores, outros personagens se movem nervosamente desde o anúncio de que há uma reserva
gigante de petróleo e gás na camada
pré-sal da bacia de Santos.
O Planalto informa que a Lei do
Petróleo pode mudar e que a receita
das novas perfurações financiará a
criação de um fundo soberano.
O governo resolve reescrever a
Lei dos Portos e facilitar a construção de terminais privados.
A oferta pública de ações de uma
petroleira bate recorde histórico na
Bovespa. O dono, Eike Batista, promete abrir o capital de uma empresa de logística portuária.
A disputa pela diretoria internacional na Petrobras vira o maior foco de atrito dentro da base lulista.
Voltam à tona denúncias antigas
de ilegalidades por trás da cessão de
terrenos no porto de Santos.
O Ministério de Minas e Energia,
ocupado pelo PMDB, propõe que a
Petrobras, comandada pelo PT, fique longe da nova reserva e sugere a
formação de uma nova estatal.
O Brasil desengaveta o projeto do
submarino nuclear (e das usinas
também) e estabelece um leilão entre Rússia, França e EUA para definir seu novo irmão em armas.
Os EUA recriam a Quarta Frota
para zelar pelo Atlântico Sul. Ainda
que considerem a África ao mesmo
tempo a "fronteira final" para investimentos e a "última barreira" à
ameaça islâmica, avisam que o primeiro exercício do porta-aviões será próximo a águas brasileiras.
Governos, mercado, políticos,
militares. Será tudo coincidência?
Há uma cena em "Sangue Negro"
("There Will Be Blood", 2007) em
que o protagonista, um milionário
do petróleo, celebra ter secado o
campo do vizinho sem que este tivesse notado: "Enfiei meu canudinho e bebi todo o milk-shake dele".
A imagem talvez se aplique à descoberta de Tupi. Quem só acredita
vendo pode ser surpreendido pelos
que acreditaram antes de ver.
mfilho@folhasp.com.br
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